Capítulo 4/ Capítulo 5

Capítulo 4


Minha mãe já devia ter voltado ao trabalho, meu pai nem entrou em casa, e isso significava que eu estava completamente sozinha. Melhor. Assim eu poderia arrumar meu quarto e dar algum jeito de conversar com minhas amigas. Eu precisava me distrair, e só elas poderiam fazer isso do jeito que eu realmente precisava.

E eu não tinha dúvidas de que elas conseguiriam fazer isso até mesmo por telefone, ou internet, se eu conseguisse instalar tudo sem a casa pegar fogo.

Quando joguei minha bolsa no sofá, um bilhete escrito em um pedaço de papel cor-de-rosa chamou minha atenção em cima da estante. Era um bilhete da minha mãe:

“Jullie,

Meu amor, não tive como te esperar voltar do colégio para almoçarmos juntas, então deixei a comida dentro do microondas. Se quiser comer outra coisa, tem dinheiro na caixinha da estante.”
Amassei o bilhete em uma bolinha e joguei-o dentro da minha bolsa. Eu não estava com uma fome mortal, e, além disso, eu queria terminar de fazer tudo que eu precisava antes de meus pais chegarem, provavelmente eles iam implorar um pouco da minha atenção.

Abri o armário da dispensa procurando algo fácil para comer, e me lembrei que minha mãe não tinha tido tempo de ir até o supermercado. Fui até a estante e balancei a caixinha de dinheiro que minha mãe havia citado no bilhete. Peguei um pouco de dinheiro e saí para procurar algum supermercado.

Andando com as mãos no bolso da jaqueta e observando a cidade, percebi uma movimentação totalmente diferente da cidade onde eu morava. Ainda estava claro, mas mesmo assim podia enxergar as luzes da cidade, que deviam chamar muita atenção durante a noite. Andei alguns minutos até que encontrei um supermercado. Não era muito grande, mas parecia estar adepto a venda de salgadinhos e refrigerantes.

Enquanto escolhia algum salgadinho para levar, uma voz que me parecia conhecida chamou meu nome:

“Jullie! Jullie! Aqui!”

Olhei para os lados até que vi Christofer do outro lado do corredor em que eu estava. Ele sorriu quando percebeu que eu estava olhando, e andou até mim.

“É, oi. Não vi você ir embora da escola, er... o que está fazendo aqui?”

Eu fiquei um pouco surpresa com a atitude dele de vir falar comigo. Na aula, quando Sierra veio conversar comigo acompanhada dele, não pude ouvir nem sua voz.

“ Ah é, meu pai estava me esperando já, então fui rápida. Vim procurar algo fácil para comer, hum... e Sierra?”

Perguntei já andando com um pacote de salgadinhos na mão em direção á uma geladeira com um emblema gigante da Coca-Cola. Ele continuou falando comigo, andando do meu lado.

“ Sierra? Ah, claro, acabei de deixá-la em casa e vim comprar uma coisa que minha mãe pediu. Mora perto daqui?”

Abri a porta da geladeira e peguei uma garrafa de refrigerante. Ele segurou a porta da geladeira enquanto eu ficava na ponta dos pés para alcançar a garrafa.

Continuamos andando em direção aos caixas e ele estava com as mãos vazias.

“Sim, não moro muito longe, alguns minutos, e ainda vim andando, então... Ei, não ia comprar algo para sua mãe?”

Ele arrumava a franja com o máximo de cuidado para não bagunçá-la, e sorriu com a minha pergunta.

“ É, então, procurei aqui mas eu não achei o que ela quer. Ela vai ter que ir buscar em outro lugar depois, não to afim de ir andando até o outro supermercado, super longe daqui.”

Assenti com a cabeça e passei as minhas coisas no caixa, enquanto ele educadamente empacotava. Paguei, tendo a sorte de o dinheiro ter dado o valor certinho das compras. Saí do supermercado, e Christofer andava do meu lado segurando as sacolas até que eu percebesse e fosse pega-las das mãos dele.

“Dá aqui, pode deixar, obrigada. Christofer, né?”

Ele me deu apenas a sacola dos salgadinhos e ficou com a garrafa de refrigerante.

“ Eu levo essa, ok?”

“Hum... não precisa, mesmo. Mas tudo bem, você pode ficar feliz com isso, então...” Sorri de leve e quando me dei conta de que ele estava indo comigo, me acompanhando até minha casa, fiquei um pouco sem graça. Afinal, não fazia mais de horas que eu havia conversado com a namorada dele. Sim, a namorada dele. Fiquei pensando se estar andando com o namorado dela poderia ser estranho, nesse lugar estranho, até que ele interrompeu:

“E ai, o que achou da escola?”

Sem olhar para ele eu respondi, andando com a alça da sacola pendurada em meu pulso, com as mãos nos bolsos.

“Ah, normal.”

“Normal? Perai, achou aquela escola normal?”

Ele deixou um riso escapar enquanto terminava de falar.

“É, acho que sim. É como qualquer outra escola, com alunos e professores, enfim... normal. Não deveria ser?”

Para não deixá-lo sem graça, um riso no mesmo tom escapou de mim na ultima frase. Ele assentiu e abriu uma expressão um pouco confusa quando viramos a rua.

“Porque esta vindo por aqui?”

Eu diminui o ritmo dos passos enquanto olhava a rua.

“Porque eu moro nessa rua, ué.”

“Tá brincando comigo, cara.”

Achei estranho a reação dele. Nós não estávamos andando em nenhuma rua das estrelas e muito menos em uma rua super desvalorizada.

“Não estou. Porque?”

Ele parou em frente a uma casa grande, com as paredes azuis e a observou, sorrindo.

“Muito prazer, vizinha.” Deu outro riso, mas dessa vez com uma empolgação a mais. Eu sorri levemente, tentando entender toda aquela situação. Olhei para o outro lado da rua e avistei minha casa um pouco mais a frente de onde estávamos.

“Ah, moramos na mesma rua, isso é... legal.” Sorri pegando das mãos dele a sacola de refrigerante.

“Não quer entrar,Jully? Nem tem a desculpa de que precisa pegar ônibus, trens e metrôs para voltar para casa.”

Isso me deixou confusa. Das duas uma, ou ele era super simpático e estava querendo ser apenas educado comigo, ou... ah, deixe essa alternativa mesmo.

“Obrigada Christofer, mas hoje não dá. Mesmo, eu não tenho que pegar ônibus e nem nada, mas tenho mil coisas para fazer em casa. Obrigada mesmo, outro dia eu entro, tudo bem?”

Ele entortou um pouco os lábios e mexeu de novo na franja, aquilo parecia mania.

“Hummm, está bem.”

Eu sorri para ele e estendi a mão para me despedir. Ele ficou olhando minha mão estendida, abaixou-a e se aproximou para beijar minha bochecha. Tá, isso foi fofo. Na verdade, ele era fofo. Mas eu não queria perceber isso, pelo menos agora não.

“Tchau, obrigada por ter vindo comigo até aqui.”

Ele sorriu quando voltou a ficar parado na minha frente, me olhando.

“Que isso, nem precisa agradecer, o caminho seria o mesmo, Jully. Até amanhã.”

“Até.”

Eu coloquei as mãos novamente nos bolso, e segui para a minha casa. Quando parei na frente do portão, olhei em direção a casa dele, e rapidamente voltei a me concentrar em abrir o portão quando percebi que ele estava me olhando, ainda. Eu estava no primeiro dia de vida naquele lugar, e já tinha um vizinho querendo fazer amizade comigo. Mais que vizinho, ele estudava na mesma sala que eu, e namorava a primeira e única garota que teve a coragem de vir falar comigo. Qualquer coisa poderia acontecer naquele lugar, e eu já esperava por coisas estranhas no meu caminho. Eu só não previa esquecer John tão fácil.


Capítulo 5

Entrei em casa, peguei minha bolsa que ainda estava no sofá e subi as escadas, com as sacolas do supermercado nas mãos. Quando entrei no meu quarto, coloquei a bolsa dentro do guarda-roupa e tirei o pacote de salgadinhos da sacola.

Abri e deixei-o em cima da escrivaninha junto com a garrafa de refrigerante. Enquanto arrumava o quarto, começando pela cama, comia alguns salgadinhos e tomava alguns goles de refrigerante.

Quando terminei de arrumar o quarto, fui tentar instalar o computador, com um medo tremendo de estragar algo e destruir o único modo de falar por horas com minhas amigas. Depois de mil tentativas de encaixar corretamente todos aqueles fios, consegui ligar o computador.

Juntei os lixos do meu quarto e coloquei dentro de uma das sacolas que estava na escrivaninha. Enquanto o computador ligava, levei os lixos para a cozinha. Votei para o quarto, subindo 2 degraus de cada vez pela escada. Abri o guarda-roupa e peguei um conjunto de moletom que me deixasse confortável. Pelo visor externo do meu celular, pude ver que ainda era 19h32min então me aprontei para tomar um banho. Meus pais chegariam em casa por volta das 22h e por isso eu não tinha muita pressa.

Depois do banho, sentei em frente ao computador e conectei a internet. Isso me deixou com uma felicidade que eu não sentia há algum tempo. Eu precisava conversar com minhas amigas, eu precisava mesmo.

Stefani, Brooke e Cykes. Esses eram os nomes delas. Uma totalmente diferente da outra. Eu me sentia perfeitamente bem com elas, porque elas sabiam o que fazer para me deixar bem. Elas eram como irmãs, aliás, são. Acredito que nem a distância possa mudar alguma coisa entre nós.

Por sorte encontrei todas online quando entrei na internet, e ficamos conversando até meus pais chegarem. Elas fizeram eu me sentir melhor, como sempre faziam. Contei a elas como eu estava nesse lugar e elas me disseram coisas que me fizeram rir, coisas que eu precisava ouvir, só para ter uma força a mais. Eu não pude deixar de perguntar como estava Paul. Elas quiseram me matar por isso, mas eu precisava saber como ele estava. E ele estava bem, pelo que Brooke me contou. Isso não me deixou irritada, mas eu pensei que talvez ele pudesse estar sentindo minha falta, e talvez estivesse chateado por isso. Mas ele estava bem, e isso queria dizer que, bom, ele estava feliz. Quando ouvi meus pais abrindo o portão, tive que me despedir delas. Meu pai não gostava muito que eu ficasse no computador por muito tempo, e do jeito que ele era, capaz que chegaria dizendo que passei o dia inteiro na internet.

Desliguei o computador e deitei na cama com meu IPod. No mesmo instante, pude ouvir minha mãe:

“Filha? Jullie, chegamos.”

Gritei do meu quarto, em um tom um pouco mais animado do que da ultima vez que tinha conversado com ela.

“Oi mãe, tô aqui em cima.”

Ela subiu para me ver como sempre fazia, e meu pai subiu também. Entraram no quarto e vieram me abraçar. Minha mãe se sentou na cama enquanto meu pai andou até a porta e disse:

“Filha, trouxemos pizza. Quer?”

Eu tirei um dos fones do ouvido e sorri para ele.

Ele parecia ter mudado, não sei por qual motivo, mas ele parecia estar mais prestativo. Estranho.

“Não, já comi, obrigada pai.”

Minha mãe ficou me olhando, e ali ficamos conversando, até que ela olhou no relógio e já marcava meia noite. Me desejou boa noite e saiu do quarto, deixando a luz do corredor acesa, porque no escuro eu não conseguia dormir, nunca. Alguns minutos depois, meu celular tocou. Levantei a cabeça pensando que talvez eu pudesse ter me enganado em relação ao toque. Estendi a mão até a escrivaninha para pegar o celular, e no visor estava escrito: Nova Mensagem – John.

Acendi a luz imediatamente e quando abri o celular para ler a mensagem, percebi que estava sorrindo.

“Jully, estou com saudades. Como está? Me dê notícias, por favor, menininha. <3”

Senti um frio na barriga quando terminei de ler. Eu não conseguia tirar os olhos da palavra ‘menininha’. Era assim que ele me chamava quando nós estávamos juntos. Aliás, estávamos juntos? Mudei-me para esse lugar sem saber disso, sem saber se algum dia já estivemos juntos. Lembro-me de quando o conheci na festa de formatura do irmão da Cykes. Ele estava lindo, como com certeza, nunca esteve antes. Ele estava possivelmente perfeito. Quando me lembrava dele, de seus olhos e cabelos escuros como as noites, de sua pele branca como o algodão, e de seu perfume encantador eu sentia muita vontade de abraçá-lo, de sentir seus lábios e sua pele. Nos víamos todos os dias, porque ele insistia em ir me buscar na escola. Ele era mais velho, quando nos conhecemos eu tinha 15 anos e ele tinha 17. Nunca assumimos um compromisso completamente sério, mas todos sabiam que estávamos juntos. Eu não me sentia no direito de obrigá-lo a me dizer quando tinha que sair com os amigos ou com os pais, porque não tínhamos uma relação oficial, mas ele sempre me avisava. Tudo estava indo perfeitamente bem, até ele conhecer Katheryn Madalane. Ela era perfeita. Mil vezes mais bonita e atraente do que eu, e mais velha também. Como qualquer outra, ela se encantou por John. Até então, não tinha como evitar. Ele era lindo, educado, fofo, perfeito, e eu não tinha como prendê-lo só para mim, ele não era completamente meu. E se alguma parte dele já foi minha, essa parte deveria ter ido embora quando ele terminou comigo o que eu não sei se poderia chamar de ‘namoro’.

Poucos dias depois que tínhamos terminado, eu estava com Stefani e Brooke no shopping, quando o vi. Ele e Katheryn. Naquele instante foi como se meus olhos tivessem sido atingidos por oceanos, e não tive como segurar as águas. Eu podia prever aquilo. Ela estava super afim dele, e alguns dias antes de terminar comigo, John estava frio, coisa que ele não costumava ser comigo. Quando Katheryn foi embora, para onde eu não sei, ele ficou algum tempo sozinho e depois veio me pedir para voltar. A vontade que eu tinha era de voltar correndo para os braços dele, mas meu orgulho foi maior. Eu não podia deixar que ele me usasse como estava usando. Senti-me substituta, e isso me deixou bem irritada com ele.


Umas duas semanas antes de eu me mudar para cá, tivemos uma discussão horrível. Não fui atrás dele, e nem ele atrás de mim. Talvez o irmão da Cykes tenha contado a ele que eu havia me mudado, por isso ele sabia que eu não estava mais lá.

Fechei o celular sem respondê-lo e voltei a deitar na cama, mas dessa vez com o pensamento longe. Porque ele me mandou essa mensagem? Porque me chamou de menininha? Ele estaria mesmo com saudades? Eu não queria ficar com o pensamento nessas perguntas, mas eram as únicas coisas com sentido que conseguiam se formar na minha cabeça. Eu estava confusa, bem confusa.


O dia seguinte prometia ser um pouco mais agitado do que o que tinha terminado, e eu não pretendia chegar na escola com olheiras enormes em volta dos olhos. Desliguei o IPod, e depois de alguns minutos consegui finalmente pegar no sono.



Capítulo 3

Capítulo 3


“Chris! Pára com graça cara, ta me irritando com isso! Christofer, PÁRA!”

Uma voz feminina entre alguns risos interrompeu meu pensamento afogado em lembranças e me deu o alerta de que pessoas estariam prestes a entrar na sala, o que me deu uma ponta de vontade de sair correndo. Mas me contive, com o IPod entre meus dedos eu tinha algo para mexer, ou fingir. Depois de alguns segundos uma garota entra na sala abraçada com um garoto um pouco mais alto que ela, que prendia sua cintura entre seus braços, e eu pude perceber que ele tentava fazer cócegas na barriga dela.

Aquela cena me deu um pouco de... Ah, não sei a palavra certa, mas me fez lembrar apenas um nome. Um nome que pertenceu a minha mente por algum tempo, um nome que me deixava com frio na barriga sempre que chegava ao meu ouvido, um nome que eu precisava esquecer por motivos que eu não tinha certeza se realmente existiam. John Kyle.

“Pára! Ta vendo que tem gente aqui. Chega de me irritar.”

A menina me olhou sorrindo ao mesmo tempo que tirava os braços do garoto de sua cintura, que se fosse pelo nome que ela falou irritada ao entrar na sala, se chamava Christofer.

Por educação, me senti na obrigação de sorrir para ela, mas sem nenhuma vontade. Quando percebi que ela finalmente tirou os olhos de mim para olhar o garoto, meu rosto voltou a mesma expressão fechada. Não pude perceber se Christofer também me olhara quando a menina deu o alerta a ele, mas esperava que não.

Alguns minutos depois, já ficando impaciente olhei o relógio e cara, ainda faltavam pouco mais de 15 minutos para aquela aula começar, e parecia que eu estava ali sentada naquela carteira há horas. No momento em que deixei um suspiro escapar, a garota falou algo que tive que olhar para ter a certeza de que era comigo. Oh não! Alguém estava falando comigo, não, não, ah, meu Deus!

“Você veio de qual escola? Parece nova aqui, não é?”

Tentar esconder o que eu realmente estava sentindo atrás de uma máscara simpática e com muita vontade de se socializar não era bem o que eu queria.

“Ah, é, sou nova. Er... você não vai conhecer a escola por nome, vim de outra cidade.”

Ela se levantou do colo de Christofer, e puxando-o pelos dedos caminhou até minha carteira, talvez esperando que eu me levantasse. E foi o que eu fiz.

“ Ah sim, entendi. Bom, eu sou a Sierra, ele é o Christofer, Se precisar de algo, estaremos aqui, é... Desculpe, qual teu nome mesmo?”

Enquanto ela apresentava-se e dizia o nome do menino que por não ser surda eu sabia, ela sorriu. Tive que olhar o menino, aquele cabelo louro e liso, com uma franja perfeitamente escovada e caída sobre os olhos não podia passar despercebido. Sorri ao voltar a olhar para Sierra, mas sem muita empolgação como antes.

“ Jullie, mas, pode me chamar de Jully. E Obrigada!”

Ela sorriu como uma criança boba e encolheu os ombros, como se estivesse tímida. Enquanto isso, outros alunos começaram a entrar na sala, e em poucos segundos, não sobrava um lugar vazio. Sierra puxou Christofer para o lugar novamente, e eu me sentei na carteira, aliviada por ter conseguido não ser estúpida com eles. A mesma sensação de que as pessoas me olhavam voltou, mas dessa vez com menos intensidade, talvez por que na sala não teria mais de 30 pessoas? É, claro.

O sinal bateu, e eu sorri para mim mesma quando me dei conta de que agora só algumas aulas ocupariam meu tempo, e pronto, eu já estaria em casa de novo, no meu quarto, instalando meu computador e contando para minhas amigas como eu estou sem elas.

“ Booooooooom dia! Acredito que estejam ansiosos para começarmos a nossa primeira aula de Biologia do Bimestre!”

Uma professora que parecia ter usado drogas antes de entrar na escola apareceu gritando, como se os alunos estivessem realmente interessados em mexer células ou qualquer coisa do tipo. Eu não estava, e fiquei menos ainda depois que ouvi:

“Mas, olha só! Temos uma aluna nova, minha querida, seja bem vinda. Não quer vir aqui na frente se apresentar?”

Eu fiz uma careta, e sem levantar da carteira, respondi a sua pergunta.

“Não, obrigada.”

“Bom, tudo bem. Sou Claire, sua nova professora de Biologia. E pela minha lista, hummm, você é Jullie Williams, certo?” Ela dizia enquanto consultava sua lista de alunos. A apresentação toda me lembrou meu primeiro dia na 1ª série, no colégio onde eu queria estar agora, sem precisar me apresentar a ninguém.

“Isso, Jullie.” Respondi abrindo meu caderno e escrevendo algo ilegível no canto da ultima folha.

A professora seguiu com a aula, falando sobre coisas que eu já havia ouvido falar um pouco. Tive que me apresentar em todas as próximas aulas, e isso me deixou cansada. No intervalo, preferi ficar na sala de aula, ouvindo música. Músicas me distraiam, sempre foram grande parte das minhas paixões, e eu não via nenhum motivo para conseguir viver sem elas.

Quando o sinal de volta as aulas tocou, me ajeitei na carteira, desliguei meu IPod e joguei-o para dentro da minha bolsa. As últimas aulas passaram mais devagar do que eu esperava, e quando por fim o ultimo sinal tocou, arrumei meus materiais e sai da sala, descendo as escadas com calma, para evitar um tropeço ou qualquer coisa que pudesse fazer as pessoas me olharem. Quando sai da escola, meu pai já estava com o carro estacionado do outro lado da rua, e eu entrei sem querer demonstrar a fadiga.

“Oi pai.” Essa foi a única coisa que ele pode ouvir de mim o caminho inteiro, até me deixar em casa e sair novamente para o trabalho, como sempre.

Capítulo 2

Capítulo 2


Tentando me concentrar um pouco mais na música que tocava no IPod, não prestei muita atenção no caminho que minha mãe fez com o carro até eu ver uma esquina com algumas pessoas, que provavelmente seriam estudantes da escola grande e ampla que eu já podia enxergar. Pensei que se talvez minha mãe não parasse com o carro bem na frente da escola, seria mais fácil eu entrar despercebida.

“Mãe, não precisa me deixar na frente da escola, eu... é, eu acho que consigo chegar até minha sala sozinha. E também, sozinha, talvez seja mais fácil de eu me socializar com o pessoal... pode me deixar aqui.” Menti. Eu não estava preocupada em me socializar, e nem com o que pensariam de uma novata que chega no colégio em um carro vermelho.

Ah, sim. Minha mãe sempre fora bem diferente de mim. Enquanto eu escolhia preto ou branco, ela sempre queria vermelho. A pessoa que mais poderia chamar atenção em um lugar era minha mãe, com aqueles cabelos louros cacheados e aquele jeito super simpático de se apresentar. Por mais que ela sempre tentasse deixar a sua filha pelo menos um pouco parecida com ela, a única semelhança entre nós era a cor dos olhos. Castanho esverdeado.

“Bom, então ta meu amor, quando quiser ir embora ligue pro seu pai. Ele tem uma reunião aqui perto e disse que viria te buscar.”

Meu pai vindo me buscar no colégio? Não, eu não estava ouvindo aquilo. Em toda a minha vida, eu posso ter a certeza de que às vezes em que meu pai foi em buscar na escola eram mínimas. Ele sempre ia a apresentações toscas de Dia Dos Pais, mas até onde eu entendia, o que mais ocupava o tempo dele era o trabalho. Pelo menos até minha ultima noite em Dallas a engenharia pareceu ter mais importância do que eu. Mas não, provavelmente eu não estava louca. Minha mãe talvez só estivesse tentando me deixar um pouco mais empolgada. Como se a presença do meu pai depois de 16 anos fosse fazer alguma diferença.

“ Bom, minhas aulas terminam 14h, eu realmente acredito que queira ir embora tipo, daqui a dez minutos. Mas eu vou esperar do outro lado da rua. Tchau mãe!”

O carro do meu pai não era nenhum monstro colorido e raro da cidade, então não me importava de esperá-lo perto da escola. Deixei que minha mãe me desse um beijo na testa, como ela sempre teve o costume de fazer. Peguei minhas coisas e saí do carro, torcendo para que a maior chuva dos últimos tempos caísse naquele momento, só para adiar um pouco mais aquele dia.


Com os dois fones nos ouvidos, segui para a escola, tendo a leve impressão de que olhares estavam sobre mim. E obviamente, perguntas sobre quem eu era e o que estava fazendo ali estavam prestes a sair da boca das pessoas. De cabeça baixa andei por todo o caminho, entrando na escola cumprimentando apenas o segurança que estava no portão, e que educadamente sorriu para mim, como se pudesse entender o que estava acontecendo.

Procurei por minha sala, olhando a placa de todas as portas que aparecia pela frente. Depois de quase rodar aquela escola inteira, que mais parecia um clube de tão grande, encontrei minha sala. A porta estava fechada, o que me levou a pensar em duas alternativas. Primeira: a porta estava fechada porque já estava lotada de pessoas fazendo zona, gritando e pulando como se estivessem em um show de rock. Segunda: Não havia ninguém na sala, tirando aqueles nerds que chegam à escola e se excluem das pessoas para ler livros de astronomia ou filosofia. No caso, eu seria um deles, mas sem os livros toscos, por favor. Concentrei-me em acreditar na segunda opção, porque gritos eu não ouvia, e no corredor não havia mais ninguém além de mim.

Abri a porta e deixei um sorriso torto escapar entre meus lábios quando percebi a sala absolutamente vazia. Procurei um lugar perto da janela, precisaria olhar para fora quando não estivesse mais agüentando aquele lugar e aquelas pessoas totalmente desconhecidas. Me sentei na carteira, pendurando minha bolsa no encosto, ao mesmo tempo que sondava a sala. As paredes eram brancas, com alguns cartazes expostos, o que parecia deixar a sala um pouco maior do que já era. Quando por fim me dei realmente conta de onde eu estava, pensamentos distintos começaram a me atormentar. Coisas que eu não queria pensar, mas acho que era o que eu precisava no momento. Lembranças do lugar onde eu morava, aquela cidade pequena onde todos se conheciam, onde eu tinha amigos que a essa hora estariam conversando e esperando o tempo passar para que a aula começasse, onde eu era feliz. Eu tinha saudades de tudo aquilo, tinha saudades das minhas amigas, que eram irmãs para mim. Eu queria pensar nelas e em tudo que eu tive de deixar para trás ao mesmo tempo em que queria evitar lágrimas, e isso era uma combinação nada justa.


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Oie, leitores mais lindos do mundo.
Não sei em quantos, exatamente, vocês estão, mas cada um de vocês já está ajudando bastante, seja com divulgação ou até mesmo, lendo. Eu espero que estejam gostando, e se, como eu, acharem que o começo está meio chato, não deixem de ler, porque eu garanto que depois, as coisas mudam de rumo. Obrigada, mais uma vez! ♥


Link Indicado: http://bc13-br.blabous.net/

Prólogo - Capítulo 1

Prólogo

Eu não queria uma vida nova.
Eu não precisava de uma vida nova, fora de Dallas. Eu não podia sorrir vendo uma vida que construí ao lado de pessoas que formavam minha base sendo deixada para trás. Tudo o que eu mais queria era ter forças para derrubar essa nova surpresa infeliz que a vida me entregou mais uma vez. Tudo estava parecendo pesadelo. Um pesadelo sem fim, onde eu corro até encontrar uma saída e sem encontrá-la, eu desabo. Já que não havia nada a fazer para acabar com tudo isso de uma vez, eu tinha que superar. Superar não significava ser feliz, pelo menos não agora.


Capítulo 1

O sol tentava nascer, um vento gelado tentava entrar pela janela, e depois de uma quase-noite, onde eu provavelmente deveria ter dormido, o que eu mais precisava era sair pela rua e andar, olhar as pessoas e procurar encontrar algum motivo que ainda pudesse me fazer ter a esperança de que aquela tempestade iria passar. Levantei-me da cama, arrastando meus pés pelo chão frio e quando olhei no relógio da cozinha e me dei conta de que ainda não passava das 5 da manhã, soltei um leve bocejo e fiquei parada, como se algo fosse me empurrar de volta para a cama. O bocejo que de leve saiu da minha boca, não era de sono. Talvez fosse de cansaço, mas não de cansaço físico. Eu realmente estava cansada, mas era o tipo de cansaço que eu previa que estaria me acompanhando pelos próximos dias, pois não havia muito tempo que eu tinha sido obrigada a sair de um lugar onde minha vida inteira fora planejada, ao lado de pessoas que realmente me faziam feliz para ir para um lugar que, bom, não sei se seria ideal nomear de inferno, porque aquilo parecia muito pior do que chamas e um elemento maldoso querendo me comandar, pelo menos pra mim aquela cidadezinha inútil não passava de uma prisão.
Em passos lentos voltei a caminhar pela casa, olhando cada um dos móveis ainda desarrumados e as caixas empacotadas até chegar ao meu quarto, onde eu pretendia passar o resto dos meus dias, se não fosse pelo pequeno detalhe de que eu ainda tinha 16 anos e que tinha uma escola que me esperava com alunos que me olhariam como se eu fosse um animal selvagem só porque me mudei numa época onde pessoas normais não se mudariam. Eu ainda pensava que eu era normal, e se eu não fosse totalmente normal, ainda havia algum jeito de eu me normalizar, mas não naquele lugar.

Me enrosquei novamente nas cobertas que cobriam minha cama bagunçada, desenrolei o fone de ouvido do meu IPod e coloquei-o em meus ouvidos, tentando fugir da realidade que me assustava cada vez que eu abria os olhos.


''Filha, está na hora! Eu não posso me atrasar pro trabalho, e você precisa se apressar pra escola. Não pode sair sem comer alguma coisa e pre...''

''Tá mãe! Eu sei de tudo isso, já sei!''
Minha mãe sempre tentava ser mais cuidadosa e carinhosa comigo do que eu merecia e agüentava, e era incrível, ela sempre me acordava dizendo as mesmas coisas, como se ela tivesse gravado as falas em um gravador e apertasse Play todas as vezes em que vinha me acordar.
Eu não estava dormindo quando ela entrou no quarto, não tinha como tirar da cabeça idéias de como seriam meus dias naquele lugar, e além disso, eu nunca me senti tão sozinha. Eu só queria que passasse logo, e que talvez, acabasse.
Desliguei o IPod, já com pouca bateria por ter ficado ligado a noite inteira, peguei a primeira roupa que vi no guarda roupa e fui para o banheiro.
Estava frio, mas pela janela do banheiro, enquanto tomava banho, eu podia ver o sol. Algo indiferente, porque tudo parecia estar escuro.


Da cozinha minha mãe me chamou para comer e por fim, peguei um moletom preto que eu sempre costumava usar quando saia com meus amigos, pendurei minha bolsa no ombro, coloquei o fone em um só lado do ouvido e desci as escadas, arrastando a sola do tênis pelo chão.
Chegando à sala, joguei minha bolsa no sofá, me sentei-me à mesa e fiquei brincando com a colher que estava pousada no pires. Enquanto minha mãe se sentava, tive que ouvir suas tentativas de me deixar mais a vontade.
'' Filha, não precisa ficar assim. Nervosismo não ajuda em nada, é seu primeiro dia, você vai conhecer pessoas novas, e... bom, vai dar tudo certo, confie em mim.''
Deixei a colher escorregar pelos meus dedos, e fiquei olhando as mãos de minha mãe se enroscarem nas minhas enquanto ela esperava uma resposta.
''Você diz como se fosse fácil eu conhecer e fazer novos amigos agora, com 16 anos, em um lugar onde eu nunca coloquei os pés, né mãe?''
Ela pressionou os lábios em uma linha reta, e baixou um pouco a cabeça, movimentando os dedos de leve por minha mão.
''Jullie, você não pode pensar assim. Isso só piora as coisas, e até parece que não confia em você mesma, minha filha.''
Eu respirei fundo, tomei um gole do leite que estava em minha xícara e me levantei. Peguei minha bolsa, e já andando, falei um pouco alto e em um tom indiferente:
''Mãe, to esperando no carro. Não to afim de chegar na escola quando já tiver gente suficiente para me observar.''


Entrei no carro, joguei minha bolsa nos meus pés, e apoiei a cabeça no encosto do banco, olhando pela janela a vizinhança que eu preferia não ver enquanto senti uma lágrima escorrer independentemente pelo meu rosto.

Bem Vindos à 'Butterflies and Hurricanes'


Este Blog foi criado com a intensão de divulgar a história escrita por mim, Kamila Ribeiro, em torno de julho/agosto de 2009. Com a ajuda essencial de meus amigos, farei de tudo para que essa história chegue ao maior número de pessoas possíveis, pois não foi fácil escrever 25 capítulos de um romance. As postagens dos capítulos serão feitas de acordo com o ritmo dos leitores. Quanto mais leitores, mais postagens, mais capítulos. A história também conta com uma trilha sonora que será postada ao longo do tempo para motivação e animação dos leitores. Vale lembrar que a divulgação é a principal, se não, a única forma de esse Blog dar certo, e por isso, eu conto com vocês. Agradeço desde já, à todos, e principalmente aos meus amigos lindos Henryke Kuhn, Bruna Gusmão, Pamela Halerquin, Camila Niederhauer e Cynara Ximenes.


Autora de 'Butterflies and Hurricanes': Kamila Ribeiro.
Direção Musical: Bruna Gusmão; Henryke Kuhn; Cynara Ximenes.
Direção Visual: Henryke Kuhn, Camila Niederhauer; Pamela H.
Direção Geral: Kamila Ribeiro.


  • Butterflies and Hurricanes

Nunca antes divulgada, 'Butterflies and Hurricanes' conta a história de Jullie, uma garota que após mudar de cidade, deixando para trás suas amigas e um grande amor, passa à receber cartas anônimas. Ao longo da história, romances são construídos, e outros destruídos.25 capítulos de romance, suspense e emoções que podem causar borboletas no estômagos, ou até mesmo, furacões.