Capítulo 11

“Jullie, Mais de uma semana se passou desde a última carta que recebeu, e por enquanto, você não demonstrou nenhum interesse de me querer por perto, ou até mesmo de querer saber quem sou. Infelizmente a única forma que tenho de estar perto de você sem nos comprometer, é por cartas, e enquanto eu não estiver confiante de que você não irá me rejeitar, essas cartas serão sempre anônimas. E mais uma vez eu te digo, não se assuste. São apenas cartas.”
Depois de ler a carta mais de 5 vezes seguidas, eu estava ficando quase tonta. Nada se encaixava. Parecia um pouco infantil da parte de quem me escrevia essas cartas, porque cartas anônimas são infantis.
Pelo menos a última carta anônima que recebi antes dessas, foi quando eu devia ter no máximo sete anos, no correio elegante da escola. E o detalhe é que até hoje eu não descobri quem me mandou aquele bilhetinho anônimo. Mas agora eu esperava descobrir quem era o mandante dessas cartas.
No fundo do envelope, como na última carta, havia mais uma pétala de rosas, que provavelmente era da mesma flor, porque tinha a mesma cor e a mesma textura da outra pétala.
Guardei a carta junto da outra que estava dentro de uma caixa no meu guarda roupa, e liguei o computador. Enquanto esperava carregar, da rua ouvi alguém me chamar.
“Jullie! Jully! Aqui fora!”
Quando pensei em me levantar da cadeira para ir até a janela, uma pedra entrou dentro do meu quarto. Eu não precisaria disso tudo para saber que era Christofer, mas fui até a janela para ter certeza e pedir para que ele esperasse um pouco.
“Calma! Já to descendo!”
Ele andava em círculos por meu jardim e parecia animado. Desci as escadas correndo e quando cheguei na porta, ele já estava ali, mexendo na franja, como sempre. Ao abrir a porta ele deu um sorriso extremamente brilhante, que até me fez sorrir.
“Jullie! Eu estou tão feliz!” Enquanto entrava na minha casa e falava empolgadamente, ele me puxou pela cintura e me envolveu em um abraço tão forte que se talvez eu fosse um pouco mais fraca do que era, ele poderia quebrar minhas costelas.
“Wow! Me fala Chris, qual o motivo de tanta felicidade?” Eu não podia deixar de ficar empolgada com ele naquele estado. Nunca havia visto-o tão feliz. Ele respirou fundo e olhou para todos os lados, até que seus olhos encontraram o sofá.
“Ah, claro. Senta aí, Chris.”
Sentei-me em uma ponta do sofá, apontando para a outra ponta, para que ele se sentasse. Ele mexeu mais uma vez na franja e se sentou, respirando fundo mais uma vez, mas sem tirar o sorriso dos lábios.
“Cara, você não vai acreditar! Jullie! Nós vamos tocar no Festival de Música de Houston! Isso não é perfeito?”
Ao falar o nome do evento, Chris deu um pulinho no sofá, batendo a mão no assento entre nós. Eu estava completamente desnorteada. Do que ele estava falando?
“Vamos?”
“Ah, Jully! Eu tenho uma banda, acho que esqueci de te falar... Mas enfim, minha banda foi uma das escolhidas para tocar no Festival. Esse Festival é magnífico. Muitas das bandas que eu curto começaram a fazer sucesso depois de tocar no FMH, e cara, não acredito! Eu e minha banda vamos estar tocando naquele palco! Jully!”
Uau. Christofer tinha uma banda.
Nunca conversamos sobre música, por isso ele nunca me disse nada. E eu estava começando a me empolgar. Festivais de música eram ótimos. Em Dallas sempre tinha um Festival em que a banda do irmão da Allison tocava, e eu ia.
Era legal, nós sempre gostamos de shows e esses festivais eram ótimos para conhecer gente nova. Stefani sempre ia embora dos festivais cheia de coisas para nos contar sobre o garotos que ela fazia ‘amizade’, se é que entendem. Allison ficava encantada com os instrumentos dos caras das bandas, e era incrível como ela conseguia se socializar com qualquer pessoa que começasse a falar até de cordas de guitarra. Cass ficava atenta nas letras das músicas, no estilo e no visual das bandas.
“Ah, Chris! Isso é ótimo! Adoro Festivais, e você tem uma banda, uau! De verdade, fico feliz por você!”
“Você não tem noção de como os caras vão ficar quando eu contar para eles! Eu acabei de ver o nome da nossa banda no site do Festival, e como estava indo para o ensaio agora mesmo, aproveitei para vir te contar. Eu queria contar para alguém!”
Eu estava feliz por ele, de verdade. Eu sempre sentia as alegrias das pessoas, mesmo que o motivo fosse totalmente insignificante para mim. Sorrindo, eu me levantei e fui até a cozinha. Christofer veio atrás de mim, e enquanto eu abria a geladeira para pegar uma garrafa de água, eu falava:
“Nossa, eles vão surtar! Eu não os conheço, mas se você que é controlado, pelo menos até onde eu pude conhecer, está desse jeito, imagine eles. Hey, quer água?”
Ele encostou na bancada da cozinha e eu me sentei na mesa.
“Não, não, valeu. Cara, eles vão surtar! De verdade!”
“Festivais são legais. Em Dallas tinha de vez em quando. Eu gosto, sempre ia...”
“Perai, você é de Dallas?”
“Sou... nasci lá. Porque?”
Christofer deu um risinho irônico e novamente mexeu no cabelo enquanto olhava no celular, provavelmente para ver as horas.
“Tenho uns amigos que moram lá, aliás, faz tempo que não os vejo... Cara, to atrasado! Jully, posso passar aqui depois do ensaio para conversarmos mais?”
Eu me levantei e joguei a garrafa na pia. Como eu ia dizer a ele que não? Na verdade, ele até poderia vir, mas meu pai faria um questionário enorme se encontrasse com Christofer em casa quando chegasse do trabalho.
“Hum... Desculpe, Chris, mas eu ainda tenho que arrumar meu quarto. E estou um pouco cansada, talvez durma mais cedo hoje... Se não se importa, podemos conversar amanhã, hein?”
Enquanto ele saía pela porta sorridente desde o momento em que entrou, se despediu de mim com um beijo na bochecha.
“Relaxa, Jully! Amanhã conversamos, tudo bem?”
“Claro, sem problemas... e ah, boa sorte no ensaio!”
Levantei duas figas com os dedos quando terminei de desejar boa sorte a ele, que andava mexendo no cabelo em direção ao centro da cidade.


Ao entrar em casa, me lembrei do computador ligado, e do que eu já estaria fazendo se Christofer não tivesse chegado ao meu jardim e quase ter surtado ali mesmo. Subi as escadas rapidamente e conectei a internet para conversar com alguma das meninas. Alguém tinha que me ajudar e talvez essa nova carta pudesse me dar mais alguma pista. Allison estava online, e foi pra ela que contei todos os meus pensamentos e relações. E foi ela quem me contou que John estava estranho.

Trilha Sonora

Olá!

Hoje, coloquei aqui no blog a primeira música que acompanhará a nossa história que é "Always Attract - You Me At Six", escolhida por Cynara. Eu e todos os outros organizadores do blog realmente esperando que estejam gostando de But&Hur e desde já, peço desculpas pelo atraso de algumas postagens. Estamos todos com alguns probleminhas em relação à escola ou coisas do tipo, e por isso, ás vezes nos atrasamos com os capítulos. Mas continuem acompanhando, e dêem suas opiniões na comunidade.

Beijossss ♥


Kamila.

Capítulo 10

A minha fome havia passado, como se a voz dele fosse a fonte de todas as minhas energias. Ou como se ele mesmo fosse essa fonte. Levantei-me do sofá e subi as escadas, arrastando os pés, como se estivesse fraca. Meu corpo se atirou na cama e estirada ali permaneci pensando. Pensando em tudo que estava acontecendo, em tudo que poderia acontecer. Coisas absurdas se passaram por minha mente, e por algum momento eu pensei que pudesse estar louca. Sem auto controle sobre mim mesma, alguns minutos depois meus olhos se fecharam e quando acordei novamente, minha mãe estava me acordando.

“Filha... acorda, o que aconteceu?”

Assustada eu levantei rapidamente, e ela estava sentada na minha cama. Passei a mão em meu rosto e pude senti-lo molhado.

Não entendi como pude chorar dormindo, mas foi isso que aconteceu.

“Nada, mãe... eu só estava cansada quando cheguei, e... que horas são? Já está de noite?”

Ao mesmo tempo em que enxugava o rosto, olhei para a fora da janela, tentando ver o céu sem precisar me levantar da cama. Meus pais sempre chegarão de noite em casa, achei estranho. O dia inteiro podia ter passado em poucas horas enquanto eu dormia?

“Não, amor... cheguei mais cedo hoje. Ainda são quatro e meia da tarde. Tem certeza que está bem? Você nunca dorme durante a tarde...”

“Ahn... claro mãe, eu estou bem, não se preocupe. Eu vou tomar um banho, tudo bem?”

Me despreguicei, apenas para despistá-la. Eu não queria contar a minha mãe nada sobre John. E nem sobre a carta anônima. E nem sobre Christofer ter vindo conversar sobre Sierra hoje. Eu não queria deixar minha mãe preocupada com a minha vida. A vida dela já era demais, e ela não merecia meus problemas fúteis.

“Bom, eu vou sair daqui a pouco. Tenho uma reunião na cidade vizinha. Se você quiser vir comigo, filha.”

“Ah, tudo bem mãe... mas eu não vou não, acho que vou sair para andar um pouco por aí, você precisa que eu vá?”

“Não, amor... pode ficar aqui, eu só pensei que iria gostar de ir comigo.”

“Ah, entendi mãe.”

Forçadamente um sorriso se estampou em meu rosto, em forma de agradecimento. Peguei roupas no guarda roupa e fui tomar banho enquanto minha mãe descia as escadas e seguia em direção da cozinha. Provavelmente ela iria preparar algo para comer, e eu aproveitaria para comer algo também, agora eu podia sentir meu estômago roncar.

Desci as escadas escovando o cabelo molhado e minha mãe já tinha preparado o lanche. Ela estava sentada na mesa, e eu me sentei ao lado dela. Enquanto comia, eu tentava desviar os olhos dela. Minha mãe sempre percebia quando algo estava errado. Eu tinha medo dela nesse aspecto. Sempre que eu tentei aprontar alguma coisa quando era criança, ela percebia, e obviamente eu ficava de castigo. Agora era provável que eu não ficaria de castigo, mas eu agia por instinto.

“Bom, eu já vou filha... Qualquer coisa me liga no celular, eu vou deixar ele no silencioso enquanto eu estiver na reunião, mas pode ligar. Seu pai chega mais tarde, e eu deixei comida na geladeira, ta?”

“Aham, valeu mãe...”

Ela se aproximou de mim enquanto eu colocava os pratos na pia e me deu um beijo no rosto, como sempre. Eu gostava da atenção da minha mãe. Mesmo quando ela sabia que não me alegraria muito, ela sempre me dava atenção, as vezes até mais do que o suficiente.

Subi para meu quarto e peguei meu celular, coloquei os fones do IPod no ouvido e desci as escadas de dois em dois degraus.

Saí de casa alguns minutos depois que minha mãe e saí andando, sem nem mesmo saber para onde iria. Eu precisava de um tempo comigo mesma. Espairecer as idéias parecia perfeito naquele dia. Enquanto andava pensei em tudo que já havia pensado antes de dormir. Mas dessa vez tudo pareceu se relacionar. De um jeito estranho, mas se relacionou.

Enquanto eu morava em Dallas, John correu atrás de mim pouquíssimas vezes, e só pediu para voltar comigo uma vez. Christofer e Sierra eram namorados lindos e apaixonados, até eu chegar. Sierra faltou no dia em que Chris veio falar comigo, tudo bem que talvez ele pudesse ter pensado em falar comigo exatamente por ela não estar presente, mas porque ele veio falar comigo? Ele sempre teve amigos, e é estranho uma pessoa contar tudo que fez o namoro acabar para uma pessoa que acabou de chegar na cidade. Aquela carta anônima veio parar em minhas mãos exatamente no dia em que Christofer se revoltou com o mundo e não falou com ninguém. E no jardim de Chris havia um roseiral e as flores eram da mesma cor que aquela pétala que recebi junto com a carta. Não, claro que não podia ter sido ele o remetente daquela carta, mas... Ok, podia ser ele, mas qual o propósito disso? Estranho demais. Rapidamente dei a volta e segui para casa. Eu precisava discutir sobre essas relações com alguém, com alguma das três que me dariam alguma luz. Percebi estar andando um pouco mais rápido que o normal, mas não diminui o ritmo por isso. Abri o portão e rapidamente entrei em casa. Tudo estaria perfeito se eu não tivesse escorregado no momento em que coloquei os pés no quintal. E depois de me levantar, quando olhei para o chão, mais um envelope branco endereçado a mim estava ali. Olhei para todos os lados da rua, tentando ver se encontrava alguém que pudesse ter jogado a carta, mas a rua estava deserta. Diretamente olhei para a casa de Christofer, e naquele momento, a luz da sala se acendeu. Ou seja, alguém havia acabado de chegar na sala, ou na casa. Dei um riso de dúvida comigo mesma e corri para dentro de casa, subindo para o quarto e me jogando na cama enquanto abria a carta, ansiosamente.

Capítulo 9

“Alô?”

A voz de John repetiu a palavra 3 vezes antes que eu pudesse reagir.

“John?”

“Sim, quem é?”

Pensei em desligar o telefone ao sentir minha voz trêmula, mas eu não tinha forças para isso. O celular dele provavelmente tinha mostrado quem estava ligando, e ele só perguntou isso para me constranger, claro.

“John... s-sou eu...”

“Eu quem?”

Não sei se era coisa da minha cabeça, mas eu percebi o riso dele escondido entre as palavras.

“Quem... quem você acha que é?”

Agora eu já estava um pouco mais calma, e conseguia respirar normalmente embora estivesse encantada com a voz dele, como em todas as vezes que ele dirigia a palavra a mim.

“ hum... eu acho q... Jully, porque você não me mandou notícias suas? Eu estava preocupado com você...”

Meus olhos se fecharam automaticamente quando minha mente foi invadida pela cena de John me abraçando e dizendo as mesmas palavras no mesmo tom doce e calmo.

“ John... eu não sei se você se lembra... mas, eu me mudei sem te falar que estaria indo embora, e eu fiz isso, porque estávamos brigados. Eu acho que não tinha a obrigação de te manter informado sobre estar viva ou não.”

“Sim, Jully... viva eu sabia que estava, porque antes mesmo de procurar por você, eu havia perguntado de você para Cykes. Eu só queria saber se está bem, só isso.”

Ele perguntou de mim para Cykes? E porque ela não me disse nada? Ah, claro. Ela não disse porque não queria que eu tivesse esperanças de ele merecer uma segunda chance só por perguntar se estou viva.

“ Ok, John, eu entendi... e se é isso que quer saber, eu estou bem.”

Eu mordi meu lábio inferior por saber que estava mentindo.

Eu não poderia ficar bem longe dele, e por mais que evitasse demonstrar, tinha certeza de que ele estava ciente disso.

“Tem certeza, menininha?”

“Ai, eu tenho! E por favor, pare de me chamar assim!”

“Porque vou para de te chamar assim, se você é minha menininha? Entenda uma coisa, Jullie, por mais que você tente não acreditar em mim quando eu falo que ainda não te esqueci, por mais que você tente me evitar, eu não consigo e nem posso te deixar ir embora.”

“John, eu já fui embora. Desde que você me trocou por quem preferiu te deixar sozinho, para você eu já deveria ter deixado de existir.”

“Mas não deixou. Eu amo você, e quando você me convencer de que sabe disso, e de que acredita, eu te deixo em paz.”

“Eu sei e acredito que você me ama, John. Não como eu te amo, mas já entendi que você me ama também.” Eu disse em um tom irônico.

“Não convenceu, Jully.”

“Que pena!”

“Jullie... se você pudesse pelo menos me dar uma ultima chance...”

“John, NÃO! Como eu vou te dar outra chance? Eu não moro mais em Dallas, agora eu moro no fim do mundo. Agora eu moro em outro lugar, tenho novos amigos e eu não posso me prender em uma cidade apenas!”

Menti de novo. Moro em outro lugar, no fim do mundo, mas não posso deixar pra trás tudo que eu passei em Dallas, ao lado dele e de outras pessoas.

“Se você me disser que me perdoa e que me dá outra chance, eu vou aonde você estiver, agora! Você sabe que ninguém precisa me dizer que duvida de mim para que eu faça, e eu estou te dizendo. Se me der outra chance, em menos de 5 horas eu vou estar aí.”

Uma pausa silenciosa invadiu o telefone. Eu não conseguia pensar em nada, absolutamente nada, depois do que ele havia dito. Era sem dúvidas uma tentação pensar que se eu dissesse sim ele estaria comigo em poucas horas.

“John... quem me garante que você quer brincar comigo como da ultima vez?”

“ Eu garanto. Se isso não basta, eu procuro algum jeito de te provar isso.”

“ Não precisa... eu, eu acredito, mas... John, por favor, n...”

Ele me interrompeu antes que eu pudesse terminar de falar.

“Tudo bem, eu entendi, Jullie. Você quer mais tempo para pensar, não é? Eu posso esperar. Pensa, mas pensa você sozinha, não deixe ninguém mais pensar por você. Eu vou te esperar, menininha.”

Senti meu coração querer saltar para fora do peito quando o ouvi me chamar de ‘menininha’, novamente.

“Tá bom, John. Eu... eu vou desligar, ta?”

“Tá bom. Tchau, um beijo.”

“Tchau.”

“Jullie? Jully?”

Pude ouvir a voz dele de longe enquanto distanciava o telefone do meu ouvido.

“Oi?”

“Eu te amo, amor.”

Doía muito não poder dizer a ele o quanto eu o amava. Doía mais ainda me lembrar o motivo pelo qual não estávamos juntos. Eu sentia meu coração se torturar toda vez em que pensava nele. Ao mesmo tempo em que eu queria abraçá-lo, eu queria bater nele, com todas as minhas forças. As forças que eu não teria mais, porque foram roubadas pelas vezes em que pensei nele.

Mais uma vez eu tinha duas opções. Dar a ele outra chance, e talvez me machucar novamente. Deixar tudo como esta, e continuar me machucando. Eu podia confiar nele e acreditar que ele não me machucaria mais, mas eu também podia confiar em mim e deixar que o tempo curasse todas as feridas.

Independente de qualquer coisa, eu tinha certeza do que queria. E no momento, o que eu queria era ele, só ele.

Capítulo 8
Aquela aula de educação física passou mais rápido do que eu pensei que passaria. Bateu o sinal e todos subiram de volta para a sala de aula.
Christofer se sentou atrás de mim, no lugar de Sierra, que havia faltado. Não me preocupei em olhar para trás nas trocas de aula, porque quando eu menos esperava, ele já estava conversando comigo.
O sinal da ultima aula tocou e enquanto o professor saia da sala, Christofer me ajudou a arrumar meus materiais, e disse:
“Jully... posso te pedir uma coisa?”
Continuei concentrada nos meus materiais e sem olhar para ele respondi:
“Pode, claro. Fale.”
“Er... sei que você e Sierra estão ficando amigas, não estão? Mas... não comente nada com ela sobre eu ter vindo conversar com você hoje, por favor?”
Eu não via problema algum em dizer a Sierra que Christofer tinha vindo desabafar comigo quando ela estava ausente, mas enfim.
“Aham, não falo nada.”
Ele assentiu e saímos da sala.
Enquanto saiamos da escola, juntos, eu pude sentir olhares vindos de vários ângulos sobre nós dois. Eu não podia pensar que eles estavam loucos por estar olhando, porque na verdade, não estavam mesmo. Christofer namorou com Sierra por tempo suficiente para se tornarem o casal popular da escola. Aquele casal que faziam meninas mais novas sentir inveja, e que a escola inteira apostava dar certo. Agora Christofer estava sozinho, longe de Sierra, e indo para casa com uma garota estranha de cabelos lisos em tons loiros com algumas mechas alaranjadas, olhos indecifráveis e que parecia ser tímida o bastante para se diferenciar por completo de Sierra.

No caminho para casa Christofer me contou praticamente a vida inteira dele, e consequentemente, me fez contar a minha também. Começamos a falar de Sierra, e ele me deixou com uma pergunta totalmente fora do assunto.
“Você já namorou, Jullie?”
“Humm... depende do que você chama de namoro.”
Ele pareceu mais confuso do que eu, mas não quis mudar de assunto.
“Namoro, ué. Duas pessoas que se amam e que ficam juntas. E que assumem compromisso, claro.”
Eu franzi os lábios e em seguida mordi o inferior ao mesmo tempo que fazia uma careta.
“Se contar pelo fato de que duas pessoas ficam juntas, eu já namorei. Mas se for contar compromisso assumido oficialmente, sou solteira desde nasci...”
Christofer riu por alguns segundos e quando eu pensei que já havia me livrado da pressão de ter que falar sobre minhas experiências amorosas, ele voltou a falar.
“Ta, você então já esteve junto de alguém. Me conta como foi...”
Eu respirei fundo e infelizmente ele não olhou para mim. Se tivesse olhado, perceberia minha expressão nem um pouco feliz e me pouparia de falar sobre isso.
“Ai, é sério? Tá, eu falo. Antes de me mudar para cá eu tinha alguém. No final do ano passado eu o conheci na formatura do irmão de uma das minhas melhores amigas. Ele é mais velho que eu e ficamos juntos por alguns meses, até ele conhecer outra garota que é mil vezes melhor do que eu, em todos os aspectos. Ele terminou comigo, ficou com ela algumas semanas, e ela foi embora. Depois ele veio pedir para que agente voltasse, mas eu não quis. E um pouco antes de eu vir para cá, tivemos uma briga feia. Seguindo os fatos, ainda estamos brigados. Foi isso...”
Christofer passou a mão na franja daquele jeito encantador e fofo, e eu não pude deixar de olhá-lo. De algum modo ele deve ter percebido que eu estava olhando, e de repente ele me olhou firmemente.
“ E você gostava dele? Ainda gosta?”
Por alguns segundos pude sentir os olhos dele penetrando nos meus, até que disfarçadamente desviei o olhar e abaixei a cabeça para responde-lo pausadamente.
“Eu nunca amei ninguém como o amei. E eu estaria dizendo a maior mentira que já pude inventar se falasse que não o amo mais. Mas faz tempo que não nos falamos e eu acho que não vai demorar muito pra eu esquecê-lo por completo.”
Me senti aliviada quando viramos a rua de nossas casas. Pelo menos era um sinal de que eu não teria que falar sobre Paul por muito tempo.
“Ah... desculpa se você não queria falar disso, Jullie. E se te conforta, eu não acredito que essa outra garota seja melhor do que você, em nenhum dos aspectos... e não é a única que sofre por amor.”
Eu sorri ainda olhando para baixo, e quando me dei conta de que ele havia me elogiado indiretamente, eu pensei estar louca, mas mesmo assim agradeci.
Paramos na frente da casa de Christofer, e ele respirou fundo enquanto se contorcia tentando pegar a chave dentro do bolso.
“Jully, obrigado por me ouvir. Você não tinha nenhuma obrigação.”
“De nada... e obrigada pela companhia. E desculpa alguma coisa.”
Ele sorriu e nos despedimos. Eu esperava apenas por um beijo na bochecha, mas ele me prendeu em um abraço, como se fossemos amigos de infância sendo separados. Alguns segundos depois nos soltamos e ele pareceu sem graça. Girei meu corpo e segui para minha casa, pensando se hoje teria que me surpreender com alguma carta.
Para minha surpresa, entrei em casa e não encontrei nenhum envelope branco endereçado a mim.
Enquanto arrumava algo para comer, senti meu celular vibrar em meu bolso. Terminei de cozinhar o macarrão instantâneo e sentei-me na mesa para comer.
Antes de começar a comer, peguei meu celular e no visor externo estava escrito: Nova Mensagem – John
O garfo escorregou da minha mão no mesmo instante em que li e caiu no chão. Não me preocupei em pegá-lo do chão, e abri meu celular para ler a nova mensagem da pessoa que tomava conta de maior parte do meu coração, mesmo eu não querendo assumir.
“você não me respondeu, Jully. Como está? Eu preciso saber de você. Sinto sua falta, amor.”
Me senti incapacitada de respirar depois de ler, e de repente algo muito forte explodiu dentro de mim. A única coisa que eu conseguia pensar em fazer era ouvir a voz de John, sentir suas palavras roçarem em meu ouvido, eu só conseguia pensar em alguma forma urgente de ter John perto de mim, naquele instante. Olhei para todos os lados até que meus olhos encontraram o telefone. Me atirei no sofá e peguei-o, discando rapidamente o número do celular de John. Enquanto chamava, senti minha respiração ofegante, até que pude ouvir uma voz linda, doce e perfeita dizer “Alô?”.

Capítulo 7
Acordei na manhã seguinte antes mesmo que minha mãe entrasse no quarto. Rolei de um lado a outro na cama esperando que o tempo passasse. Eu não havia acordado muito tempo antes da rotina, porque alguns minutos depois pude ouvir:
“Filha, está na hora. Acorda! Não podemos nos atrasar.”
Levantei da cama me despreguiçando e indo em direção ao guarda roupa. As coisas que eu fazia de manhã eram monótonas e rotineiras.
“Mãe, não precisa vir me buscar hoje na escola.”
Eu queria ir embora sozinha, porque eu pretendia ficar algum tempo mais na escola. Não que isso fosse extremamente prazeroso, mas eu queria pelo menos tentar encontrar alguma pista. Mesmo que eu tivesse 97% de chances de estar errada por pensar que aquela carta vinha de alguém que estivesse perto de mim, eu era teimosa até comigo mesma e de algum jeito eu ia descobrir.
“Tudo bem... você vai andando para casa, filha?”
Minha mãe pareceu um tanto quanto desconfiada por eu ter dito que não precisava ir me buscar. É claro. Há dois dias eu não queria nem me lembrar que tinha vida naquele lugar novo.
“Aham, vou ver se alguém da escola vai comigo até em casa. Não se preocupe, mãe.”
“Ah, você fez amigos já? Nossa, filha, que ótimo! Eu sabia que você era encantadora, mas confesso que me surpreendi. Viu? Não é tão ruim assim, meu amor, você v...”
Não me lembro de ter dito algo sobre ter feito mil amigos na escola, mas enfim. As pessoas estavam começando a entrar na escola, e eu a interrompi.
“Mãe, olha, já estão entrando. Depois converso com você. Tchau.”
Puxei minha bolsa do banco traseiro e saí do carro, entrando no meio da multidão que queria entrar na escola.

Ao entrar na sala de aula, estranhei ao encontrá-la sozinha. Coloquei minha bolsa pendurada na minha carteira e fui olhar o horário de aulas que havia no mural. Quarta-feira. Primeira Aula. Educação Física, na quadra. Fiz uma careta para mim mesma e estava andando em direção a porta, quando percebi então que não estava sozinha.
“Oi, Jullie.”
Mantive-me parada antes de me virar para ver quem estava falando. Eu não precisava olhar para ter certeza de que era Christofer.
“Tudo bem?”
Quando girei meu corpo para olhá-lo, ele estava sentado, em uma carteira exatamente atrás da minha. Com as pernas esticadas, com o braço apoiado na mesa e as mãos seguindo levemente as mechas de cabelo louro que caia sobre seus olhos.
“Oi, Christofer. Tudo, e você?”
Fiquei um pouco constrangida quando ele parou de observar as mechas do cabelo e passou a me olhar.
“Mais ou menos. Será que eu posso conversar contigo? Ainda não bateu o sinal e quando bater nós vamos para a aula. Por favor?”
Eu ia tentar evitar, se ele não tivesse destruído as minhas armas.
Parecia que ele já sabia que eu ia dizer que precisava descer para a aula na quadra e agora eu não podia negar.
“Pode, claro.”
Enquanto ele se ajeitou na carteira, eu segui em direção a minha. Me sentei de lado, olhando para a janela. Eu podia perceber que ele me olhava, e por alguns segundos alternados também o olhei.
“Pode falar.”
“Desculpa pegar seu tempo, Jully. É que... sei lá, eu preciso conversar com alguém, desabafar.”
Ele tinha outros amigos, pelo menos até antes de eu chegar era assim. Não entendi como e porque ele queria conversar, desabafar comigo, eu nem se quer sabia da vida dele.
“Sem problemas... vamos lá, Chris, fale.”
“Eu não sei o que aconteceu comigo esses dias, mas foi como se uma bomba tivesse estourado dentro de mim e junto com a bomba, o amor que eu sentia por ela tivesse explodido também... Ah, eu não sei de nada, mas terminei com Sierra.”
Ele falava com a cabeça baixa, e parecia que estava tentando conter o choro. Talvez para ele seria muito humilhante derramar lágrimas por uma garota, na frente de uma outra que ele só sabia onde morava.
“Christofer... eu, er... é complicado, mas, você pelo menos tentou conversar com ela?”
Eu não estava mentindo. Era realmente complicado. E ele continuava de cabeça baixa.
“Não, eu não tive como. Eu não tinha como explicar pra ela, eu não tinha idéia do que falar... eu, eu terminei tudo. Eu acabei com tudo que tínhamos construído juntos durante 2 anos, e agora, estou sozinho de novo. E eu não sei o que eu faço.”
Antes que ele terminasse de dizer a ultima palavra, o sinal tocou, mas continuamos sentados. Agora ele me olhava, e eu o olhava também. Franzi os lábios em uma linha reta e me levantei.
“Christofer, melhor irmos para a quadra. Depois eu falo com você de novo, se quiser.”
Ele se levantou e mexeu no cabelo, como sempre mexia.
“Sim, eu quero... Hoje vai para a casa depois da escola?”
“Aham, vou andando. Pode ir comigo.”
Ele sorriu e assentiu.
Peguei um elástico de cabelo que estava dentro da minha bolsa, e fomos para fora da sala. Enquanto eu prendia o cabelo em um rabo de cavalo, ele andava ao meu lado no corredor.
Quando chegamos à quadra o professor ainda não estava lá, e Sierra também não estava. Nos separamos e cada um sentou em um lado da quadra. Christofer foi até os outros meninos que estavam sentados perto do gol, e eu me sentei na arquibancada. Coloquei as mãos nos bolsos, e de um deles tirei uma pétala de rosas. A mesma pétala do dia anterior. Apalpei-a um pouco, e quando o professor finalmente chegou na quadra, guardei-a no bolso.
Capítulo 6

Na manhã seguinte, minha mãe conseguiu terminar de falar o diálogo monótono antes que eu acordasse, precisou até me balançar um pouco para que eu despertasse. Levantei-me, peguei minhas roupas e fui para o banheiro, como de rotina. Desci com a bolsa pendurada no ombro, e peguei uma barra de cereais na dispensa. Enquanto comia no sofá, minha mãe descia as escadas com tudo o que precisava levar para o trabalho. Minha mãe era advogada e sempre precisava levar mil papeis para o escritório.
“Filha, hoje eu preciso sair da cidade para resolver um processo, e provavelmente não chegue antes das 14h. Teu pai também não vai estar aqui, se importa de vir andando?” Minha mãe sempre pensou que eu fosse uma menininha frágil que não tivesse capacidade para andar sozinha em uma cidade, mas eu não era assim.
“Tá, tudo bem, mãe. Acho que consigo voltar sem me perder.”
Minha mãe deu um sorriso lindo e prestativo e saímos em direção ao carro.

No caminho para a escola minha mãe ficou falando coisas que eu não precisava ouvir, como a quantidade de pessoas que insistem em conversar durante um julgamento no tribunal. Eu estava assentindo indiferentemente a tudo que ela dizia, para pelo menos transparecer que eu estava ouvindo, com apenas um dos ouvidos, pois o outro estava conectado com a música, como sempre.
“Meu amor, depois que chegar da escola, assim que colocar os pés dentro de casa me ligue, ta bom? Não me deixe preocupada.”
Ela não precisava nem ter dito isso, convivendo 16 anos com ela eu já podia prever que se não telefonasse assim que chegasse em casa, em menos de 1 hora viaturas estariam gritando por meu nome pela cidade.
“Aham, eu ligo mãe. Tchau.”
Desci do carro no mesmo lugar do dia anterior, ainda queria evitar olhares sobre mim. Entrei na escola e me senti aliviada por não precisar me preocupar em ser educada com o segurança do portão, ele estava conversando com outra pessoa quando entrei na escola, então nem reparou em mim. Segui diretamente para a sala de aula, torcendo para que estivesse vazia de novo. Não estava.
“Oi Jullie, como está?”
Coloquei minha bolsa na minha carteira e fui cumprimentar Sierra, que estava sentada em uma das carteiras da fileira ao lado da minha. Engraçado, hoje ela estava sem Alex.
“Oi. Bem, e você?”
Ela deu um sorriso que eu percebi ser forçado e me perguntei se aquele mau humor teria algo a ver comigo.
“Acho que estou bem.”
Me sentei na carteira vazia em frente a dela e tirei o fone do ouvido, desligando o IPod no mesmo momento. Qualquer pessoa podia ver que ela não estava bem e se tem alguém no mundo que sente as dores pelos outros, esse alguém sou eu. Como ela havia tido a coragem de vir conversar comigo no dia anterior e hoje também, me senti no direito de oferecer ajuda.
“Sierra... tudo bem mesmo? Você parece meio confusa, não sei...”
Ela respirou fundo e endireitou o corpo na certeira.
“Ah, eu não sei, Jully. Problemas de rotina, normal.”
“Tem certeza? Bom, se precisar de algo...”
Ela assentiu e sorriu levemente. Depois de alguns segundos, a sala começou a lotar, e Christofer entrou, junto com os outros alunos.
Achei estranho, por dois motivos. Ele não me cumprimentou e nem se quer olhou para Sierra. Sentou-se na ultima carteira de uma das fileiras, a mais distante de nós. Sierra o seguiu com o olhar, e quando voltou a me olhar, pude ver o esforço para segurar as lágrimas.
Algo havia acontecido com eles, e era ENTRE eles. Não quis perguntar nada a nenhum dos dois, com medo de magoar ou que eles não gostassem. Se Sierra se sentisse confiante comigo, ela me contaria. E eu não podia e nem queria pressionar nada, mas algo de estranho havia acontecido.
A aula passou como todos os dias, chata e talvez até mais irritante. Quando a ultima aula terminou, me levantei para procurar Sierra, mas ela já havia saído da sala. Christofer estava terminando de colocar as coisas na mochila e eu olhei para ele cuidadosamente para que ele não percebesse.

Segui andando para a casa, com os fones nos dois ouvidos, que me impediam de ouvir qualquer outra coisa que não fosse os solos de guitarra e pancadas de bateria da música.
Quando entrei na rua de casa, vi Christofer sentado em frente a casa dele, com as pernas encolhidas e os braços apoiados nelas.

Diminui o ritmo dos passos e quando passei na frente dele, olhei de canto para observá-lo e ele estava me olhando. Continuei andando, e quando entrei em casa, havia um envelope branco jogado no chão do quintal. Peguei-o e sem olhar o nome do Destinatário entrei em casa, jogando-o na estante ao mesmo tempo em que mirei para jogar minha bolsa no sofá. Por falta de mira, minha bolsa caiu no chão. Agachei para pegar a bolsa e desta vez, o envelope que estava na estante onde apoiei caiu no chão. Foi quando li meu nome no destinatário. O que seria aquilo? Não fazia mais de 1 semana que havia me mudado, não tinha passado meu endereço a ninguém e então, o que era aquilo? Abri o envelope e dentro dele havia uma pétala de rosa e um bilhete escrito com letras digitadas.

“Jullie,
Você deve estar achando estranho, mas não ache. A pétala é só um presente, aliás, essa não será a única. Só quero você um pouco mais perto e não quero me revelar a partir de já, com medo de sua reação. Não tenha medo, são apenas cartas. Cartas anônimas.”

“Cartas Anônimas? Hum...” Falei para mim mesma, tentando entender tudo.
Subi para o meu quarto com o envelope na mão, e a bolsa pendurada. Cheguei em casa com um pouco de fome, mas depois de ler isso, incrivelmente a fome passou. Liguei o computador e esperei que carregasse. Enquanto isso, troquei de roupa e li novamente a carta, buscando alguma pista. Nada encontrei.
Contei a Brooke o que havia acontecido durante o dia. Desde o momento em que cheguei à escola, até a hora em que liguei o computador. Cykes e Stefani não estavam online, e Broo prometeu contar a elas também. Elas poderiam me ajudar, talvez. As idéias infalíveis da Stefani poderiam me dar alguma pista. O gênio lógico que era a mente de Cy poderia me dar outra pista. Brooke com seu dom de observação poderia me dar mais uma pista. Algo me dizia que aquilo não vinha de perto. Mas estava confuso. Muito confuso.
Não esperei meus pais chegarem para desligar o computador. Estava exausta e depois de um dia complicado como este, eu precisava dormir. Deitei-me e esperei que o sono me derrubasse, o que não demorou muito.