Capítulo 3

Capítulo 3


“Chris! Pára com graça cara, ta me irritando com isso! Christofer, PÁRA!”

Uma voz feminina entre alguns risos interrompeu meu pensamento afogado em lembranças e me deu o alerta de que pessoas estariam prestes a entrar na sala, o que me deu uma ponta de vontade de sair correndo. Mas me contive, com o IPod entre meus dedos eu tinha algo para mexer, ou fingir. Depois de alguns segundos uma garota entra na sala abraçada com um garoto um pouco mais alto que ela, que prendia sua cintura entre seus braços, e eu pude perceber que ele tentava fazer cócegas na barriga dela.

Aquela cena me deu um pouco de... Ah, não sei a palavra certa, mas me fez lembrar apenas um nome. Um nome que pertenceu a minha mente por algum tempo, um nome que me deixava com frio na barriga sempre que chegava ao meu ouvido, um nome que eu precisava esquecer por motivos que eu não tinha certeza se realmente existiam. John Kyle.

“Pára! Ta vendo que tem gente aqui. Chega de me irritar.”

A menina me olhou sorrindo ao mesmo tempo que tirava os braços do garoto de sua cintura, que se fosse pelo nome que ela falou irritada ao entrar na sala, se chamava Christofer.

Por educação, me senti na obrigação de sorrir para ela, mas sem nenhuma vontade. Quando percebi que ela finalmente tirou os olhos de mim para olhar o garoto, meu rosto voltou a mesma expressão fechada. Não pude perceber se Christofer também me olhara quando a menina deu o alerta a ele, mas esperava que não.

Alguns minutos depois, já ficando impaciente olhei o relógio e cara, ainda faltavam pouco mais de 15 minutos para aquela aula começar, e parecia que eu estava ali sentada naquela carteira há horas. No momento em que deixei um suspiro escapar, a garota falou algo que tive que olhar para ter a certeza de que era comigo. Oh não! Alguém estava falando comigo, não, não, ah, meu Deus!

“Você veio de qual escola? Parece nova aqui, não é?”

Tentar esconder o que eu realmente estava sentindo atrás de uma máscara simpática e com muita vontade de se socializar não era bem o que eu queria.

“Ah, é, sou nova. Er... você não vai conhecer a escola por nome, vim de outra cidade.”

Ela se levantou do colo de Christofer, e puxando-o pelos dedos caminhou até minha carteira, talvez esperando que eu me levantasse. E foi o que eu fiz.

“ Ah sim, entendi. Bom, eu sou a Sierra, ele é o Christofer, Se precisar de algo, estaremos aqui, é... Desculpe, qual teu nome mesmo?”

Enquanto ela apresentava-se e dizia o nome do menino que por não ser surda eu sabia, ela sorriu. Tive que olhar o menino, aquele cabelo louro e liso, com uma franja perfeitamente escovada e caída sobre os olhos não podia passar despercebido. Sorri ao voltar a olhar para Sierra, mas sem muita empolgação como antes.

“ Jullie, mas, pode me chamar de Jully. E Obrigada!”

Ela sorriu como uma criança boba e encolheu os ombros, como se estivesse tímida. Enquanto isso, outros alunos começaram a entrar na sala, e em poucos segundos, não sobrava um lugar vazio. Sierra puxou Christofer para o lugar novamente, e eu me sentei na carteira, aliviada por ter conseguido não ser estúpida com eles. A mesma sensação de que as pessoas me olhavam voltou, mas dessa vez com menos intensidade, talvez por que na sala não teria mais de 30 pessoas? É, claro.

O sinal bateu, e eu sorri para mim mesma quando me dei conta de que agora só algumas aulas ocupariam meu tempo, e pronto, eu já estaria em casa de novo, no meu quarto, instalando meu computador e contando para minhas amigas como eu estou sem elas.

“ Booooooooom dia! Acredito que estejam ansiosos para começarmos a nossa primeira aula de Biologia do Bimestre!”

Uma professora que parecia ter usado drogas antes de entrar na escola apareceu gritando, como se os alunos estivessem realmente interessados em mexer células ou qualquer coisa do tipo. Eu não estava, e fiquei menos ainda depois que ouvi:

“Mas, olha só! Temos uma aluna nova, minha querida, seja bem vinda. Não quer vir aqui na frente se apresentar?”

Eu fiz uma careta, e sem levantar da carteira, respondi a sua pergunta.

“Não, obrigada.”

“Bom, tudo bem. Sou Claire, sua nova professora de Biologia. E pela minha lista, hummm, você é Jullie Williams, certo?” Ela dizia enquanto consultava sua lista de alunos. A apresentação toda me lembrou meu primeiro dia na 1ª série, no colégio onde eu queria estar agora, sem precisar me apresentar a ninguém.

“Isso, Jullie.” Respondi abrindo meu caderno e escrevendo algo ilegível no canto da ultima folha.

A professora seguiu com a aula, falando sobre coisas que eu já havia ouvido falar um pouco. Tive que me apresentar em todas as próximas aulas, e isso me deixou cansada. No intervalo, preferi ficar na sala de aula, ouvindo música. Músicas me distraiam, sempre foram grande parte das minhas paixões, e eu não via nenhum motivo para conseguir viver sem elas.

Quando o sinal de volta as aulas tocou, me ajeitei na carteira, desliguei meu IPod e joguei-o para dentro da minha bolsa. As últimas aulas passaram mais devagar do que eu esperava, e quando por fim o ultimo sinal tocou, arrumei meus materiais e sai da sala, descendo as escadas com calma, para evitar um tropeço ou qualquer coisa que pudesse fazer as pessoas me olharem. Quando sai da escola, meu pai já estava com o carro estacionado do outro lado da rua, e eu entrei sem querer demonstrar a fadiga.

“Oi pai.” Essa foi a única coisa que ele pode ouvir de mim o caminho inteiro, até me deixar em casa e sair novamente para o trabalho, como sempre.