Prólogo - Capítulo 1

Prólogo

Eu não queria uma vida nova.
Eu não precisava de uma vida nova, fora de Dallas. Eu não podia sorrir vendo uma vida que construí ao lado de pessoas que formavam minha base sendo deixada para trás. Tudo o que eu mais queria era ter forças para derrubar essa nova surpresa infeliz que a vida me entregou mais uma vez. Tudo estava parecendo pesadelo. Um pesadelo sem fim, onde eu corro até encontrar uma saída e sem encontrá-la, eu desabo. Já que não havia nada a fazer para acabar com tudo isso de uma vez, eu tinha que superar. Superar não significava ser feliz, pelo menos não agora.


Capítulo 1

O sol tentava nascer, um vento gelado tentava entrar pela janela, e depois de uma quase-noite, onde eu provavelmente deveria ter dormido, o que eu mais precisava era sair pela rua e andar, olhar as pessoas e procurar encontrar algum motivo que ainda pudesse me fazer ter a esperança de que aquela tempestade iria passar. Levantei-me da cama, arrastando meus pés pelo chão frio e quando olhei no relógio da cozinha e me dei conta de que ainda não passava das 5 da manhã, soltei um leve bocejo e fiquei parada, como se algo fosse me empurrar de volta para a cama. O bocejo que de leve saiu da minha boca, não era de sono. Talvez fosse de cansaço, mas não de cansaço físico. Eu realmente estava cansada, mas era o tipo de cansaço que eu previa que estaria me acompanhando pelos próximos dias, pois não havia muito tempo que eu tinha sido obrigada a sair de um lugar onde minha vida inteira fora planejada, ao lado de pessoas que realmente me faziam feliz para ir para um lugar que, bom, não sei se seria ideal nomear de inferno, porque aquilo parecia muito pior do que chamas e um elemento maldoso querendo me comandar, pelo menos pra mim aquela cidadezinha inútil não passava de uma prisão.
Em passos lentos voltei a caminhar pela casa, olhando cada um dos móveis ainda desarrumados e as caixas empacotadas até chegar ao meu quarto, onde eu pretendia passar o resto dos meus dias, se não fosse pelo pequeno detalhe de que eu ainda tinha 16 anos e que tinha uma escola que me esperava com alunos que me olhariam como se eu fosse um animal selvagem só porque me mudei numa época onde pessoas normais não se mudariam. Eu ainda pensava que eu era normal, e se eu não fosse totalmente normal, ainda havia algum jeito de eu me normalizar, mas não naquele lugar.

Me enrosquei novamente nas cobertas que cobriam minha cama bagunçada, desenrolei o fone de ouvido do meu IPod e coloquei-o em meus ouvidos, tentando fugir da realidade que me assustava cada vez que eu abria os olhos.


''Filha, está na hora! Eu não posso me atrasar pro trabalho, e você precisa se apressar pra escola. Não pode sair sem comer alguma coisa e pre...''

''Tá mãe! Eu sei de tudo isso, já sei!''
Minha mãe sempre tentava ser mais cuidadosa e carinhosa comigo do que eu merecia e agüentava, e era incrível, ela sempre me acordava dizendo as mesmas coisas, como se ela tivesse gravado as falas em um gravador e apertasse Play todas as vezes em que vinha me acordar.
Eu não estava dormindo quando ela entrou no quarto, não tinha como tirar da cabeça idéias de como seriam meus dias naquele lugar, e além disso, eu nunca me senti tão sozinha. Eu só queria que passasse logo, e que talvez, acabasse.
Desliguei o IPod, já com pouca bateria por ter ficado ligado a noite inteira, peguei a primeira roupa que vi no guarda roupa e fui para o banheiro.
Estava frio, mas pela janela do banheiro, enquanto tomava banho, eu podia ver o sol. Algo indiferente, porque tudo parecia estar escuro.


Da cozinha minha mãe me chamou para comer e por fim, peguei um moletom preto que eu sempre costumava usar quando saia com meus amigos, pendurei minha bolsa no ombro, coloquei o fone em um só lado do ouvido e desci as escadas, arrastando a sola do tênis pelo chão.
Chegando à sala, joguei minha bolsa no sofá, me sentei-me à mesa e fiquei brincando com a colher que estava pousada no pires. Enquanto minha mãe se sentava, tive que ouvir suas tentativas de me deixar mais a vontade.
'' Filha, não precisa ficar assim. Nervosismo não ajuda em nada, é seu primeiro dia, você vai conhecer pessoas novas, e... bom, vai dar tudo certo, confie em mim.''
Deixei a colher escorregar pelos meus dedos, e fiquei olhando as mãos de minha mãe se enroscarem nas minhas enquanto ela esperava uma resposta.
''Você diz como se fosse fácil eu conhecer e fazer novos amigos agora, com 16 anos, em um lugar onde eu nunca coloquei os pés, né mãe?''
Ela pressionou os lábios em uma linha reta, e baixou um pouco a cabeça, movimentando os dedos de leve por minha mão.
''Jullie, você não pode pensar assim. Isso só piora as coisas, e até parece que não confia em você mesma, minha filha.''
Eu respirei fundo, tomei um gole do leite que estava em minha xícara e me levantei. Peguei minha bolsa, e já andando, falei um pouco alto e em um tom indiferente:
''Mãe, to esperando no carro. Não to afim de chegar na escola quando já tiver gente suficiente para me observar.''


Entrei no carro, joguei minha bolsa nos meus pés, e apoiei a cabeça no encosto do banco, olhando pela janela a vizinhança que eu preferia não ver enquanto senti uma lágrima escorrer independentemente pelo meu rosto.