Capítulo 8
Aquela aula de educação física passou mais rápido do que eu pensei que passaria. Bateu o sinal e todos subiram de volta para a sala de aula.
Christofer se sentou atrás de mim, no lugar de Sierra, que havia faltado. Não me preocupei em olhar para trás nas trocas de aula, porque quando eu menos esperava, ele já estava conversando comigo.
O sinal da ultima aula tocou e enquanto o professor saia da sala, Christofer me ajudou a arrumar meus materiais, e disse:
“Jully... posso te pedir uma coisa?”
Continuei concentrada nos meus materiais e sem olhar para ele respondi:
“Pode, claro. Fale.”
“Er... sei que você e Sierra estão ficando amigas, não estão? Mas... não comente nada com ela sobre eu ter vindo conversar com você hoje, por favor?”
Eu não via problema algum em dizer a Sierra que Christofer tinha vindo desabafar comigo quando ela estava ausente, mas enfim.
“Aham, não falo nada.”
Ele assentiu e saímos da sala.
Enquanto saiamos da escola, juntos, eu pude sentir olhares vindos de vários ângulos sobre nós dois. Eu não podia pensar que eles estavam loucos por estar olhando, porque na verdade, não estavam mesmo. Christofer namorou com Sierra por tempo suficiente para se tornarem o casal popular da escola. Aquele casal que faziam meninas mais novas sentir inveja, e que a escola inteira apostava dar certo. Agora Christofer estava sozinho, longe de Sierra, e indo para casa com uma garota estranha de cabelos lisos em tons loiros com algumas mechas alaranjadas, olhos indecifráveis e que parecia ser tímida o bastante para se diferenciar por completo de Sierra.

No caminho para casa Christofer me contou praticamente a vida inteira dele, e consequentemente, me fez contar a minha também. Começamos a falar de Sierra, e ele me deixou com uma pergunta totalmente fora do assunto.
“Você já namorou, Jullie?”
“Humm... depende do que você chama de namoro.”
Ele pareceu mais confuso do que eu, mas não quis mudar de assunto.
“Namoro, ué. Duas pessoas que se amam e que ficam juntas. E que assumem compromisso, claro.”
Eu franzi os lábios e em seguida mordi o inferior ao mesmo tempo que fazia uma careta.
“Se contar pelo fato de que duas pessoas ficam juntas, eu já namorei. Mas se for contar compromisso assumido oficialmente, sou solteira desde nasci...”
Christofer riu por alguns segundos e quando eu pensei que já havia me livrado da pressão de ter que falar sobre minhas experiências amorosas, ele voltou a falar.
“Ta, você então já esteve junto de alguém. Me conta como foi...”
Eu respirei fundo e infelizmente ele não olhou para mim. Se tivesse olhado, perceberia minha expressão nem um pouco feliz e me pouparia de falar sobre isso.
“Ai, é sério? Tá, eu falo. Antes de me mudar para cá eu tinha alguém. No final do ano passado eu o conheci na formatura do irmão de uma das minhas melhores amigas. Ele é mais velho que eu e ficamos juntos por alguns meses, até ele conhecer outra garota que é mil vezes melhor do que eu, em todos os aspectos. Ele terminou comigo, ficou com ela algumas semanas, e ela foi embora. Depois ele veio pedir para que agente voltasse, mas eu não quis. E um pouco antes de eu vir para cá, tivemos uma briga feia. Seguindo os fatos, ainda estamos brigados. Foi isso...”
Christofer passou a mão na franja daquele jeito encantador e fofo, e eu não pude deixar de olhá-lo. De algum modo ele deve ter percebido que eu estava olhando, e de repente ele me olhou firmemente.
“ E você gostava dele? Ainda gosta?”
Por alguns segundos pude sentir os olhos dele penetrando nos meus, até que disfarçadamente desviei o olhar e abaixei a cabeça para responde-lo pausadamente.
“Eu nunca amei ninguém como o amei. E eu estaria dizendo a maior mentira que já pude inventar se falasse que não o amo mais. Mas faz tempo que não nos falamos e eu acho que não vai demorar muito pra eu esquecê-lo por completo.”
Me senti aliviada quando viramos a rua de nossas casas. Pelo menos era um sinal de que eu não teria que falar sobre Paul por muito tempo.
“Ah... desculpa se você não queria falar disso, Jullie. E se te conforta, eu não acredito que essa outra garota seja melhor do que você, em nenhum dos aspectos... e não é a única que sofre por amor.”
Eu sorri ainda olhando para baixo, e quando me dei conta de que ele havia me elogiado indiretamente, eu pensei estar louca, mas mesmo assim agradeci.
Paramos na frente da casa de Christofer, e ele respirou fundo enquanto se contorcia tentando pegar a chave dentro do bolso.
“Jully, obrigado por me ouvir. Você não tinha nenhuma obrigação.”
“De nada... e obrigada pela companhia. E desculpa alguma coisa.”
Ele sorriu e nos despedimos. Eu esperava apenas por um beijo na bochecha, mas ele me prendeu em um abraço, como se fossemos amigos de infância sendo separados. Alguns segundos depois nos soltamos e ele pareceu sem graça. Girei meu corpo e segui para minha casa, pensando se hoje teria que me surpreender com alguma carta.
Para minha surpresa, entrei em casa e não encontrei nenhum envelope branco endereçado a mim.
Enquanto arrumava algo para comer, senti meu celular vibrar em meu bolso. Terminei de cozinhar o macarrão instantâneo e sentei-me na mesa para comer.
Antes de começar a comer, peguei meu celular e no visor externo estava escrito: Nova Mensagem – John
O garfo escorregou da minha mão no mesmo instante em que li e caiu no chão. Não me preocupei em pegá-lo do chão, e abri meu celular para ler a nova mensagem da pessoa que tomava conta de maior parte do meu coração, mesmo eu não querendo assumir.
“você não me respondeu, Jully. Como está? Eu preciso saber de você. Sinto sua falta, amor.”
Me senti incapacitada de respirar depois de ler, e de repente algo muito forte explodiu dentro de mim. A única coisa que eu conseguia pensar em fazer era ouvir a voz de John, sentir suas palavras roçarem em meu ouvido, eu só conseguia pensar em alguma forma urgente de ter John perto de mim, naquele instante. Olhei para todos os lados até que meus olhos encontraram o telefone. Me atirei no sofá e peguei-o, discando rapidamente o número do celular de John. Enquanto chamava, senti minha respiração ofegante, até que pude ouvir uma voz linda, doce e perfeita dizer “Alô?”.