Capítulo 7
Acordei na manhã seguinte antes mesmo que minha mãe entrasse no quarto. Rolei de um lado a outro na cama esperando que o tempo passasse. Eu não havia acordado muito tempo antes da rotina, porque alguns minutos depois pude ouvir:
“Filha, está na hora. Acorda! Não podemos nos atrasar.”
Levantei da cama me despreguiçando e indo em direção ao guarda roupa. As coisas que eu fazia de manhã eram monótonas e rotineiras.
“Mãe, não precisa vir me buscar hoje na escola.”
Eu queria ir embora sozinha, porque eu pretendia ficar algum tempo mais na escola. Não que isso fosse extremamente prazeroso, mas eu queria pelo menos tentar encontrar alguma pista. Mesmo que eu tivesse 97% de chances de estar errada por pensar que aquela carta vinha de alguém que estivesse perto de mim, eu era teimosa até comigo mesma e de algum jeito eu ia descobrir.
“Tudo bem... você vai andando para casa, filha?”
Minha mãe pareceu um tanto quanto desconfiada por eu ter dito que não precisava ir me buscar. É claro. Há dois dias eu não queria nem me lembrar que tinha vida naquele lugar novo.
“Aham, vou ver se alguém da escola vai comigo até em casa. Não se preocupe, mãe.”
“Ah, você fez amigos já? Nossa, filha, que ótimo! Eu sabia que você era encantadora, mas confesso que me surpreendi. Viu? Não é tão ruim assim, meu amor, você v...”
Não me lembro de ter dito algo sobre ter feito mil amigos na escola, mas enfim. As pessoas estavam começando a entrar na escola, e eu a interrompi.
“Mãe, olha, já estão entrando. Depois converso com você. Tchau.”
Puxei minha bolsa do banco traseiro e saí do carro, entrando no meio da multidão que queria entrar na escola.

Ao entrar na sala de aula, estranhei ao encontrá-la sozinha. Coloquei minha bolsa pendurada na minha carteira e fui olhar o horário de aulas que havia no mural. Quarta-feira. Primeira Aula. Educação Física, na quadra. Fiz uma careta para mim mesma e estava andando em direção a porta, quando percebi então que não estava sozinha.
“Oi, Jullie.”
Mantive-me parada antes de me virar para ver quem estava falando. Eu não precisava olhar para ter certeza de que era Christofer.
“Tudo bem?”
Quando girei meu corpo para olhá-lo, ele estava sentado, em uma carteira exatamente atrás da minha. Com as pernas esticadas, com o braço apoiado na mesa e as mãos seguindo levemente as mechas de cabelo louro que caia sobre seus olhos.
“Oi, Christofer. Tudo, e você?”
Fiquei um pouco constrangida quando ele parou de observar as mechas do cabelo e passou a me olhar.
“Mais ou menos. Será que eu posso conversar contigo? Ainda não bateu o sinal e quando bater nós vamos para a aula. Por favor?”
Eu ia tentar evitar, se ele não tivesse destruído as minhas armas.
Parecia que ele já sabia que eu ia dizer que precisava descer para a aula na quadra e agora eu não podia negar.
“Pode, claro.”
Enquanto ele se ajeitou na carteira, eu segui em direção a minha. Me sentei de lado, olhando para a janela. Eu podia perceber que ele me olhava, e por alguns segundos alternados também o olhei.
“Pode falar.”
“Desculpa pegar seu tempo, Jully. É que... sei lá, eu preciso conversar com alguém, desabafar.”
Ele tinha outros amigos, pelo menos até antes de eu chegar era assim. Não entendi como e porque ele queria conversar, desabafar comigo, eu nem se quer sabia da vida dele.
“Sem problemas... vamos lá, Chris, fale.”
“Eu não sei o que aconteceu comigo esses dias, mas foi como se uma bomba tivesse estourado dentro de mim e junto com a bomba, o amor que eu sentia por ela tivesse explodido também... Ah, eu não sei de nada, mas terminei com Sierra.”
Ele falava com a cabeça baixa, e parecia que estava tentando conter o choro. Talvez para ele seria muito humilhante derramar lágrimas por uma garota, na frente de uma outra que ele só sabia onde morava.
“Christofer... eu, er... é complicado, mas, você pelo menos tentou conversar com ela?”
Eu não estava mentindo. Era realmente complicado. E ele continuava de cabeça baixa.
“Não, eu não tive como. Eu não tinha como explicar pra ela, eu não tinha idéia do que falar... eu, eu terminei tudo. Eu acabei com tudo que tínhamos construído juntos durante 2 anos, e agora, estou sozinho de novo. E eu não sei o que eu faço.”
Antes que ele terminasse de dizer a ultima palavra, o sinal tocou, mas continuamos sentados. Agora ele me olhava, e eu o olhava também. Franzi os lábios em uma linha reta e me levantei.
“Christofer, melhor irmos para a quadra. Depois eu falo com você de novo, se quiser.”
Ele se levantou e mexeu no cabelo, como sempre mexia.
“Sim, eu quero... Hoje vai para a casa depois da escola?”
“Aham, vou andando. Pode ir comigo.”
Ele sorriu e assentiu.
Peguei um elástico de cabelo que estava dentro da minha bolsa, e fomos para fora da sala. Enquanto eu prendia o cabelo em um rabo de cavalo, ele andava ao meu lado no corredor.
Quando chegamos à quadra o professor ainda não estava lá, e Sierra também não estava. Nos separamos e cada um sentou em um lado da quadra. Christofer foi até os outros meninos que estavam sentados perto do gol, e eu me sentei na arquibancada. Coloquei as mãos nos bolsos, e de um deles tirei uma pétala de rosas. A mesma pétala do dia anterior. Apalpei-a um pouco, e quando o professor finalmente chegou na quadra, guardei-a no bolso.