Capítulo 6

Na manhã seguinte, minha mãe conseguiu terminar de falar o diálogo monótono antes que eu acordasse, precisou até me balançar um pouco para que eu despertasse. Levantei-me, peguei minhas roupas e fui para o banheiro, como de rotina. Desci com a bolsa pendurada no ombro, e peguei uma barra de cereais na dispensa. Enquanto comia no sofá, minha mãe descia as escadas com tudo o que precisava levar para o trabalho. Minha mãe era advogada e sempre precisava levar mil papeis para o escritório.
“Filha, hoje eu preciso sair da cidade para resolver um processo, e provavelmente não chegue antes das 14h. Teu pai também não vai estar aqui, se importa de vir andando?” Minha mãe sempre pensou que eu fosse uma menininha frágil que não tivesse capacidade para andar sozinha em uma cidade, mas eu não era assim.
“Tá, tudo bem, mãe. Acho que consigo voltar sem me perder.”
Minha mãe deu um sorriso lindo e prestativo e saímos em direção ao carro.

No caminho para a escola minha mãe ficou falando coisas que eu não precisava ouvir, como a quantidade de pessoas que insistem em conversar durante um julgamento no tribunal. Eu estava assentindo indiferentemente a tudo que ela dizia, para pelo menos transparecer que eu estava ouvindo, com apenas um dos ouvidos, pois o outro estava conectado com a música, como sempre.
“Meu amor, depois que chegar da escola, assim que colocar os pés dentro de casa me ligue, ta bom? Não me deixe preocupada.”
Ela não precisava nem ter dito isso, convivendo 16 anos com ela eu já podia prever que se não telefonasse assim que chegasse em casa, em menos de 1 hora viaturas estariam gritando por meu nome pela cidade.
“Aham, eu ligo mãe. Tchau.”
Desci do carro no mesmo lugar do dia anterior, ainda queria evitar olhares sobre mim. Entrei na escola e me senti aliviada por não precisar me preocupar em ser educada com o segurança do portão, ele estava conversando com outra pessoa quando entrei na escola, então nem reparou em mim. Segui diretamente para a sala de aula, torcendo para que estivesse vazia de novo. Não estava.
“Oi Jullie, como está?”
Coloquei minha bolsa na minha carteira e fui cumprimentar Sierra, que estava sentada em uma das carteiras da fileira ao lado da minha. Engraçado, hoje ela estava sem Alex.
“Oi. Bem, e você?”
Ela deu um sorriso que eu percebi ser forçado e me perguntei se aquele mau humor teria algo a ver comigo.
“Acho que estou bem.”
Me sentei na carteira vazia em frente a dela e tirei o fone do ouvido, desligando o IPod no mesmo momento. Qualquer pessoa podia ver que ela não estava bem e se tem alguém no mundo que sente as dores pelos outros, esse alguém sou eu. Como ela havia tido a coragem de vir conversar comigo no dia anterior e hoje também, me senti no direito de oferecer ajuda.
“Sierra... tudo bem mesmo? Você parece meio confusa, não sei...”
Ela respirou fundo e endireitou o corpo na certeira.
“Ah, eu não sei, Jully. Problemas de rotina, normal.”
“Tem certeza? Bom, se precisar de algo...”
Ela assentiu e sorriu levemente. Depois de alguns segundos, a sala começou a lotar, e Christofer entrou, junto com os outros alunos.
Achei estranho, por dois motivos. Ele não me cumprimentou e nem se quer olhou para Sierra. Sentou-se na ultima carteira de uma das fileiras, a mais distante de nós. Sierra o seguiu com o olhar, e quando voltou a me olhar, pude ver o esforço para segurar as lágrimas.
Algo havia acontecido com eles, e era ENTRE eles. Não quis perguntar nada a nenhum dos dois, com medo de magoar ou que eles não gostassem. Se Sierra se sentisse confiante comigo, ela me contaria. E eu não podia e nem queria pressionar nada, mas algo de estranho havia acontecido.
A aula passou como todos os dias, chata e talvez até mais irritante. Quando a ultima aula terminou, me levantei para procurar Sierra, mas ela já havia saído da sala. Christofer estava terminando de colocar as coisas na mochila e eu olhei para ele cuidadosamente para que ele não percebesse.

Segui andando para a casa, com os fones nos dois ouvidos, que me impediam de ouvir qualquer outra coisa que não fosse os solos de guitarra e pancadas de bateria da música.
Quando entrei na rua de casa, vi Christofer sentado em frente a casa dele, com as pernas encolhidas e os braços apoiados nelas.

Diminui o ritmo dos passos e quando passei na frente dele, olhei de canto para observá-lo e ele estava me olhando. Continuei andando, e quando entrei em casa, havia um envelope branco jogado no chão do quintal. Peguei-o e sem olhar o nome do Destinatário entrei em casa, jogando-o na estante ao mesmo tempo em que mirei para jogar minha bolsa no sofá. Por falta de mira, minha bolsa caiu no chão. Agachei para pegar a bolsa e desta vez, o envelope que estava na estante onde apoiei caiu no chão. Foi quando li meu nome no destinatário. O que seria aquilo? Não fazia mais de 1 semana que havia me mudado, não tinha passado meu endereço a ninguém e então, o que era aquilo? Abri o envelope e dentro dele havia uma pétala de rosa e um bilhete escrito com letras digitadas.

“Jullie,
Você deve estar achando estranho, mas não ache. A pétala é só um presente, aliás, essa não será a única. Só quero você um pouco mais perto e não quero me revelar a partir de já, com medo de sua reação. Não tenha medo, são apenas cartas. Cartas anônimas.”

“Cartas Anônimas? Hum...” Falei para mim mesma, tentando entender tudo.
Subi para o meu quarto com o envelope na mão, e a bolsa pendurada. Cheguei em casa com um pouco de fome, mas depois de ler isso, incrivelmente a fome passou. Liguei o computador e esperei que carregasse. Enquanto isso, troquei de roupa e li novamente a carta, buscando alguma pista. Nada encontrei.
Contei a Brooke o que havia acontecido durante o dia. Desde o momento em que cheguei à escola, até a hora em que liguei o computador. Cykes e Stefani não estavam online, e Broo prometeu contar a elas também. Elas poderiam me ajudar, talvez. As idéias infalíveis da Stefani poderiam me dar alguma pista. O gênio lógico que era a mente de Cy poderia me dar outra pista. Brooke com seu dom de observação poderia me dar mais uma pista. Algo me dizia que aquilo não vinha de perto. Mas estava confuso. Muito confuso.
Não esperei meus pais chegarem para desligar o computador. Estava exausta e depois de um dia complicado como este, eu precisava dormir. Deitei-me e esperei que o sono me derrubasse, o que não demorou muito.