Capítulo 14

Capítulo 14

Quando chegamos todos já estavam lá. Eram todos do mesmo estilo de Christofer e nenhum deles me pareceu conhecido, ou seja, nenhum deles, tirando Chris, estudava na mesma escola que eu.

“Pessoal, essa é a Jullie.”

“Oi.”

Olhei para todos e dei um sorriso torto que demonstrasse meu estado de vergonha. Eles me mediam, como se eu fosse algo que eles sempre quiseram conhecer. Isso me deu medo. Um deles se aproximou de mim para me cumprimentar enquanto os outros falavam com Chris, em um tom baixo, como cochichos.

“Ah, então você que é a famosa Jullie? Muito prazer.”

Apertei a mão do garoto que estava estendida e um pouco surpresa, respondi:

“Sou Jullie, mas não sei a parte do famosa...”

“Ah, claro. Ele fala muito de você, por isso aqui você já é famosa. Todos estavam ansiosos para te conhecer.”

Olhei para Christofer e ele estava vermelho. Muito vermelho. Dei risada da sua expressão, e abaixei a cabeça, ainda rindo.

“J-J-Jullie... Não liga para eles, é mentira... Esse bando de idiotas... Ah, vem cá, senta aqui...”

Christofer me puxou pelo braço e me guiou até um sofá que havia no local. Enquanto isso, eu podia ouvir os risos dos garotos que aos poucos se misturavam com os meus.

Os garotos se preparavam para começar o ensaio, enquanto eu mandava uma mensagem para o celular da minha mãe, avisando onde estava.

Observando aquela situação, me dei conta de como Christofer me lembrava John. Não fisicamente, mas a personalidade. John também tinha uma banda. E me lembro de ter ido aos ensaios com Cykes, porque o irmão dela tocava na mesma banda. Chris interrompeu meus pensamentos vagos.

“Jully, nós vamos começar. Essa é ‘Running From Lions’. Não faz muito tempo que escrevemos e pegamos a melodia, então, diz o que acha, tá?”

“Isso mesmo Jullie, diga o que acha, sua opinião é muito importante para nós...”

Todos os outros garotos assentiram, e eu me senti numa espécie de show onde eu era a estrela. Christofer olhou feio para o garoto que falou e em seguida todos riram. Alguns segundos depois, todos estavam tocando, e a música era ótima. A letra era boa, e a melodia também. Tudo estava perfeito naquela música. Em alguns momentos Christofer tirava os olhos do violão para me olhar, e quando percebia isso, eu levava os olhos para qualquer lugar ali que não fosse ele. Quando terminaram de tocar, eu estava entrando numa espécie de ‘shock’. A voz de Christofer era perfeita. E eu nunca imaginei que ele pudesse ter uma banda tão boa.

“E então, Jully... curtiu?”

“Christofer! Nossa, é perfeita. A música é ótima e a sua voz é muito favorável, eu confesso que estou em ‘shock’...”

Dessa vez todos pareceram ficar intimidados, e como forma de agradecimento, todos sorriram uns para os outros, inclusive Chris.

“Que bom que gostou. O que acham de a gente tocar ‘Lullabies’ para ela?”

Todos assentiram para Christofer, e eu cruzei as pernas em cima do sofá, sorrindo para todos eles. Não demorou muito para que todos começassem a tocar, e a voz de Chris mais uma vez me deixou de boca aberta.

A voz dele era completamente diferente do que eu pensei que pudesse ser. Aliás, nunca havia imaginado Christofer em uma banda, muito menos cantando. Mais uma vez a música era ótima e se dependesse dessas duas músicas entre as outras que tocaram no ensaio, o Festival já era deles.

“Cara, estão de Parabéns! De verdade, a banda é ótima. Eu não sou nenhum profissional para julgar, mas não tenho dúvidas que a banda e as músicas são ótimas. Eu adorei, de verdade.”

“A gente está muito feliz por você ter gostado. E no Festival ainda terá uma surpresinha, espero que todo mundo goste... inclusive você...”

“Ah, com certeza eu vou gostar. Aliás, o Festival inteiro vai gostar, tenho certeza disso. Vocês são ótimos... Chris, se importa se eu já for embora? Eu não queria, mas preciso ir...”

Uma expressão de decepção invadiu meu rosto, e no mesmo momento Christofer já começou a guardar o violão.

“Sem problemas, Jully. Vocês arrumam tudo aqui, não arrumam?”

Christofer se virou para os garotos, e eu percebi que ele deu uma piscadinha para eles. Isso deveria ter passado despercebidamente por mim, mas eu vi, e a culpa não foi minha.

Os meninos disseram ‘Tchau Jullie.’ em um coral, como se tivessem ensaiado a despedida durante as músicas sem eu ouvir. Chris se despediu deles, e saímos do salão onde estávamos.

“Demais, Chris. A banda é demais.”

“Gostou mesmo, Jully?”

“Não. Menti na cara dura.”

Nós rimos, e enquanto andávamos, ele apoiou o braço em meu ombro. Olhei para a mão dele ao lado do meu rosto e me perguntei se aquilo estava realmente acontecendo ou se eu estava vendo coisas. Queria que fosse a segunda opção, mas era a primeira. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Chris me interrompeu:

“Tomara que você goste do Festival também, Jully.”

“Não tenho dúvidas de que eu vou gostar, Chris.”

Em menos de 15 minutos de caminhada já estávamos na frente da minha casa, e fiquei mais aliviada por não ver os carros dos meus pais na garagem.

“Obrigada. Eu gostei de ter ido no ensaio, foi ótimo.”

Christofer tirou o braço do meu ombro e de frente para mim, ficou me olhando fixamente. Não me senti extremamente bem com isso, mas não consegui desviar os olhar dos olhos dele. Dessa vez não.

“Eu adorei ter passado o dia com você, Jully. Você é... nossa, é magnífica.”

No momento em que pronunciou a palavra ‘magnífica’ lentamente, pude sentir mais borboletas no estômago do que da ultima vez, e junto com isso, senti seus dedos tocarem de leve meu rosto. Eu sorri levemente e minha resposta foi impedida pela tentativa dele de me beijar. Ele levou seu corpo para frente e suas mãos seguraram minha cintura.

Lentamente aproximou o rosto do meu, mas antes que seus lábios pudessem tocar os meus, virei o rosto. O nariz dele roçou minha bochecha e ali ele deixou um beijo. Ele pode ter ficado magoado, mas se eu não evitasse, tenho certeza de que mais de uma pessoa sairia machucada. Ainda com o rosto perto do meu, ele respirou fundo e disse:

“Desculpa, Jullie.”

“Tudo bem. É melhor eu entrar.”

Tirei as mãos dele da minha cintura e me afastei. Ele pareceu envergonhado e enquanto eu entrava em casa, ele abaixou a cabeça, mexeu na franja e me olhou.

“Nos falamos depois?”

“Aham. Tchau.”

Entrei rapidamente e ele saiu, andando em direção a sua casa. Eu não estava entendendo o que acabara de acontecer. Fechei a porta, e subi para meu quarto, andando devagar. Entrei no quarto, fechei a porta e encostei-me ali. Escorreguei e logo estava sentada no chão, com os braços apoiados nos joelhos. Minha mente foi invadida por tudo que ele havia dito durante o dia. E o que pudesse ter acontecido comigo, com meus sentimentos, se eu não tivesse o impedido de me beijar. Levantei-me e fui até o banheiro. Tomei um banho, escovei os dentes e cada vez que me olhava no espelho, eu tinha que fechar os olhos para não me arrepender do que tinha acabado de fazer. Talvez eu quisesse ter beijado ele. Talvez não. Eu queria ter deixado ele me beijar. Mas forças quais não sei de onde vieram me fizeram evitar o beijo.

Fui me deitar e esperei que o sono me vencesse. Ouvi os carros dos meus pais chegarem e fechei os olhos, tentando dormir. Eu não queria mais pensar nisso, e em mais nada. Para minha sorte, um pouco depois de ouvir minha mãe subir para ver se eu estava dormindo, finalmente dormi.