Capítulo 10

A minha fome havia passado, como se a voz dele fosse a fonte de todas as minhas energias. Ou como se ele mesmo fosse essa fonte. Levantei-me do sofá e subi as escadas, arrastando os pés, como se estivesse fraca. Meu corpo se atirou na cama e estirada ali permaneci pensando. Pensando em tudo que estava acontecendo, em tudo que poderia acontecer. Coisas absurdas se passaram por minha mente, e por algum momento eu pensei que pudesse estar louca. Sem auto controle sobre mim mesma, alguns minutos depois meus olhos se fecharam e quando acordei novamente, minha mãe estava me acordando.

“Filha... acorda, o que aconteceu?”

Assustada eu levantei rapidamente, e ela estava sentada na minha cama. Passei a mão em meu rosto e pude senti-lo molhado.

Não entendi como pude chorar dormindo, mas foi isso que aconteceu.

“Nada, mãe... eu só estava cansada quando cheguei, e... que horas são? Já está de noite?”

Ao mesmo tempo em que enxugava o rosto, olhei para a fora da janela, tentando ver o céu sem precisar me levantar da cama. Meus pais sempre chegarão de noite em casa, achei estranho. O dia inteiro podia ter passado em poucas horas enquanto eu dormia?

“Não, amor... cheguei mais cedo hoje. Ainda são quatro e meia da tarde. Tem certeza que está bem? Você nunca dorme durante a tarde...”

“Ahn... claro mãe, eu estou bem, não se preocupe. Eu vou tomar um banho, tudo bem?”

Me despreguicei, apenas para despistá-la. Eu não queria contar a minha mãe nada sobre John. E nem sobre a carta anônima. E nem sobre Christofer ter vindo conversar sobre Sierra hoje. Eu não queria deixar minha mãe preocupada com a minha vida. A vida dela já era demais, e ela não merecia meus problemas fúteis.

“Bom, eu vou sair daqui a pouco. Tenho uma reunião na cidade vizinha. Se você quiser vir comigo, filha.”

“Ah, tudo bem mãe... mas eu não vou não, acho que vou sair para andar um pouco por aí, você precisa que eu vá?”

“Não, amor... pode ficar aqui, eu só pensei que iria gostar de ir comigo.”

“Ah, entendi mãe.”

Forçadamente um sorriso se estampou em meu rosto, em forma de agradecimento. Peguei roupas no guarda roupa e fui tomar banho enquanto minha mãe descia as escadas e seguia em direção da cozinha. Provavelmente ela iria preparar algo para comer, e eu aproveitaria para comer algo também, agora eu podia sentir meu estômago roncar.

Desci as escadas escovando o cabelo molhado e minha mãe já tinha preparado o lanche. Ela estava sentada na mesa, e eu me sentei ao lado dela. Enquanto comia, eu tentava desviar os olhos dela. Minha mãe sempre percebia quando algo estava errado. Eu tinha medo dela nesse aspecto. Sempre que eu tentei aprontar alguma coisa quando era criança, ela percebia, e obviamente eu ficava de castigo. Agora era provável que eu não ficaria de castigo, mas eu agia por instinto.

“Bom, eu já vou filha... Qualquer coisa me liga no celular, eu vou deixar ele no silencioso enquanto eu estiver na reunião, mas pode ligar. Seu pai chega mais tarde, e eu deixei comida na geladeira, ta?”

“Aham, valeu mãe...”

Ela se aproximou de mim enquanto eu colocava os pratos na pia e me deu um beijo no rosto, como sempre. Eu gostava da atenção da minha mãe. Mesmo quando ela sabia que não me alegraria muito, ela sempre me dava atenção, as vezes até mais do que o suficiente.

Subi para meu quarto e peguei meu celular, coloquei os fones do IPod no ouvido e desci as escadas de dois em dois degraus.

Saí de casa alguns minutos depois que minha mãe e saí andando, sem nem mesmo saber para onde iria. Eu precisava de um tempo comigo mesma. Espairecer as idéias parecia perfeito naquele dia. Enquanto andava pensei em tudo que já havia pensado antes de dormir. Mas dessa vez tudo pareceu se relacionar. De um jeito estranho, mas se relacionou.

Enquanto eu morava em Dallas, John correu atrás de mim pouquíssimas vezes, e só pediu para voltar comigo uma vez. Christofer e Sierra eram namorados lindos e apaixonados, até eu chegar. Sierra faltou no dia em que Chris veio falar comigo, tudo bem que talvez ele pudesse ter pensado em falar comigo exatamente por ela não estar presente, mas porque ele veio falar comigo? Ele sempre teve amigos, e é estranho uma pessoa contar tudo que fez o namoro acabar para uma pessoa que acabou de chegar na cidade. Aquela carta anônima veio parar em minhas mãos exatamente no dia em que Christofer se revoltou com o mundo e não falou com ninguém. E no jardim de Chris havia um roseiral e as flores eram da mesma cor que aquela pétala que recebi junto com a carta. Não, claro que não podia ter sido ele o remetente daquela carta, mas... Ok, podia ser ele, mas qual o propósito disso? Estranho demais. Rapidamente dei a volta e segui para casa. Eu precisava discutir sobre essas relações com alguém, com alguma das três que me dariam alguma luz. Percebi estar andando um pouco mais rápido que o normal, mas não diminui o ritmo por isso. Abri o portão e rapidamente entrei em casa. Tudo estaria perfeito se eu não tivesse escorregado no momento em que coloquei os pés no quintal. E depois de me levantar, quando olhei para o chão, mais um envelope branco endereçado a mim estava ali. Olhei para todos os lados da rua, tentando ver se encontrava alguém que pudesse ter jogado a carta, mas a rua estava deserta. Diretamente olhei para a casa de Christofer, e naquele momento, a luz da sala se acendeu. Ou seja, alguém havia acabado de chegar na sala, ou na casa. Dei um riso de dúvida comigo mesma e corri para dentro de casa, subindo para o quarto e me jogando na cama enquanto abria a carta, ansiosamente.