Capítulo 11

“Jullie, Mais de uma semana se passou desde a última carta que recebeu, e por enquanto, você não demonstrou nenhum interesse de me querer por perto, ou até mesmo de querer saber quem sou. Infelizmente a única forma que tenho de estar perto de você sem nos comprometer, é por cartas, e enquanto eu não estiver confiante de que você não irá me rejeitar, essas cartas serão sempre anônimas. E mais uma vez eu te digo, não se assuste. São apenas cartas.”
Depois de ler a carta mais de 5 vezes seguidas, eu estava ficando quase tonta. Nada se encaixava. Parecia um pouco infantil da parte de quem me escrevia essas cartas, porque cartas anônimas são infantis.
Pelo menos a última carta anônima que recebi antes dessas, foi quando eu devia ter no máximo sete anos, no correio elegante da escola. E o detalhe é que até hoje eu não descobri quem me mandou aquele bilhetinho anônimo. Mas agora eu esperava descobrir quem era o mandante dessas cartas.
No fundo do envelope, como na última carta, havia mais uma pétala de rosas, que provavelmente era da mesma flor, porque tinha a mesma cor e a mesma textura da outra pétala.
Guardei a carta junto da outra que estava dentro de uma caixa no meu guarda roupa, e liguei o computador. Enquanto esperava carregar, da rua ouvi alguém me chamar.
“Jullie! Jully! Aqui fora!”
Quando pensei em me levantar da cadeira para ir até a janela, uma pedra entrou dentro do meu quarto. Eu não precisaria disso tudo para saber que era Christofer, mas fui até a janela para ter certeza e pedir para que ele esperasse um pouco.
“Calma! Já to descendo!”
Ele andava em círculos por meu jardim e parecia animado. Desci as escadas correndo e quando cheguei na porta, ele já estava ali, mexendo na franja, como sempre. Ao abrir a porta ele deu um sorriso extremamente brilhante, que até me fez sorrir.
“Jullie! Eu estou tão feliz!” Enquanto entrava na minha casa e falava empolgadamente, ele me puxou pela cintura e me envolveu em um abraço tão forte que se talvez eu fosse um pouco mais fraca do que era, ele poderia quebrar minhas costelas.
“Wow! Me fala Chris, qual o motivo de tanta felicidade?” Eu não podia deixar de ficar empolgada com ele naquele estado. Nunca havia visto-o tão feliz. Ele respirou fundo e olhou para todos os lados, até que seus olhos encontraram o sofá.
“Ah, claro. Senta aí, Chris.”
Sentei-me em uma ponta do sofá, apontando para a outra ponta, para que ele se sentasse. Ele mexeu mais uma vez na franja e se sentou, respirando fundo mais uma vez, mas sem tirar o sorriso dos lábios.
“Cara, você não vai acreditar! Jullie! Nós vamos tocar no Festival de Música de Houston! Isso não é perfeito?”
Ao falar o nome do evento, Chris deu um pulinho no sofá, batendo a mão no assento entre nós. Eu estava completamente desnorteada. Do que ele estava falando?
“Vamos?”
“Ah, Jully! Eu tenho uma banda, acho que esqueci de te falar... Mas enfim, minha banda foi uma das escolhidas para tocar no Festival. Esse Festival é magnífico. Muitas das bandas que eu curto começaram a fazer sucesso depois de tocar no FMH, e cara, não acredito! Eu e minha banda vamos estar tocando naquele palco! Jully!”
Uau. Christofer tinha uma banda.
Nunca conversamos sobre música, por isso ele nunca me disse nada. E eu estava começando a me empolgar. Festivais de música eram ótimos. Em Dallas sempre tinha um Festival em que a banda do irmão da Allison tocava, e eu ia.
Era legal, nós sempre gostamos de shows e esses festivais eram ótimos para conhecer gente nova. Stefani sempre ia embora dos festivais cheia de coisas para nos contar sobre o garotos que ela fazia ‘amizade’, se é que entendem. Allison ficava encantada com os instrumentos dos caras das bandas, e era incrível como ela conseguia se socializar com qualquer pessoa que começasse a falar até de cordas de guitarra. Cass ficava atenta nas letras das músicas, no estilo e no visual das bandas.
“Ah, Chris! Isso é ótimo! Adoro Festivais, e você tem uma banda, uau! De verdade, fico feliz por você!”
“Você não tem noção de como os caras vão ficar quando eu contar para eles! Eu acabei de ver o nome da nossa banda no site do Festival, e como estava indo para o ensaio agora mesmo, aproveitei para vir te contar. Eu queria contar para alguém!”
Eu estava feliz por ele, de verdade. Eu sempre sentia as alegrias das pessoas, mesmo que o motivo fosse totalmente insignificante para mim. Sorrindo, eu me levantei e fui até a cozinha. Christofer veio atrás de mim, e enquanto eu abria a geladeira para pegar uma garrafa de água, eu falava:
“Nossa, eles vão surtar! Eu não os conheço, mas se você que é controlado, pelo menos até onde eu pude conhecer, está desse jeito, imagine eles. Hey, quer água?”
Ele encostou na bancada da cozinha e eu me sentei na mesa.
“Não, não, valeu. Cara, eles vão surtar! De verdade!”
“Festivais são legais. Em Dallas tinha de vez em quando. Eu gosto, sempre ia...”
“Perai, você é de Dallas?”
“Sou... nasci lá. Porque?”
Christofer deu um risinho irônico e novamente mexeu no cabelo enquanto olhava no celular, provavelmente para ver as horas.
“Tenho uns amigos que moram lá, aliás, faz tempo que não os vejo... Cara, to atrasado! Jully, posso passar aqui depois do ensaio para conversarmos mais?”
Eu me levantei e joguei a garrafa na pia. Como eu ia dizer a ele que não? Na verdade, ele até poderia vir, mas meu pai faria um questionário enorme se encontrasse com Christofer em casa quando chegasse do trabalho.
“Hum... Desculpe, Chris, mas eu ainda tenho que arrumar meu quarto. E estou um pouco cansada, talvez durma mais cedo hoje... Se não se importa, podemos conversar amanhã, hein?”
Enquanto ele saía pela porta sorridente desde o momento em que entrou, se despediu de mim com um beijo na bochecha.
“Relaxa, Jully! Amanhã conversamos, tudo bem?”
“Claro, sem problemas... e ah, boa sorte no ensaio!”
Levantei duas figas com os dedos quando terminei de desejar boa sorte a ele, que andava mexendo no cabelo em direção ao centro da cidade.


Ao entrar em casa, me lembrei do computador ligado, e do que eu já estaria fazendo se Christofer não tivesse chegado ao meu jardim e quase ter surtado ali mesmo. Subi as escadas rapidamente e conectei a internet para conversar com alguma das meninas. Alguém tinha que me ajudar e talvez essa nova carta pudesse me dar mais alguma pista. Allison estava online, e foi pra ela que contei todos os meus pensamentos e relações. E foi ela quem me contou que John estava estranho.